Será assim

Por Mario de Almeida Parte do elenco do antigo Teatro de Equipe ? Ivette Brandalise, Marlene Ruperti, Nilda Maria, Armando Ferreira Filho, Luiz Carlos …

Por Mario de Almeida
Parte do elenco do antigo Teatro de Equipe - Ivette Brandalise, Marlene Ruperti, Nilda Maria, Armando Ferreira Filho, Luiz Carlos Maciel, Milton Mattos, Paulo César Peréio, Paulo José e eu - subimos a um palco improvisado no foyer do Theatro São Pedro e numa pequena performance resumimos a história de nossas encenações de 1958 a 1962. Essa performance foi uma homenagem a quem prestigiou, naquela noite de 15 de setembro, o lançamento do livro "Trem de Volta - Teatro de Equipe", uma parceria de Rafael Guimaraens comigo e colaboração de 20 amigas/amigos que viveram aqueles tempos conosco. Foi, também, um festival de adrenalina, gente que não se via há mais de 40 anos se abraçando e se beijando.

O que deveria terminar com os eventos patrocinados pela Secretaria Municipal de Cultura através do Porto Alegre em Cena e de seu responsável, Ramiro Silveira, gerou um novo convite, agora da Feira do Livro, uma das mais belas tradições da cidade.
Sábado próximo, dia 8, na Casa de Cultura Érico Veríssimo, no auditório Barbosa Lessa, Cristina Zanini, Ivette Brandalise, Marlene Ruperti, Armando Ferreira Flho, Hugo Cassel, Milton Mattos, eu e a cooptada jovem atriz Valéria Lima, vamos fazer uma leitura dramatizada.
Escrevi, a pedido dos anfitriões, "Um ato contra atos", um ato de memória focado nos atos institucionais baixados a partir do golpe de 1964 e, principalmente, no famigerado Ato Institucional Número 5, um golpe vil contra qualquer aceno de liberdade e enfiado pela goela da Nação em 13 de dezembro de 1968.
A Feira do Livro, inclusive, foi golpeada pela Ditadura, pois muitos autores, como Rubem Fonseca, por exemplo, tiveram proibidas as edições de suas obras. A Censura castrou todos os segmentos da inteligência, da cultura, das artes e da informação deste país. Instituições como a Feira do Livro, cujo universo é o universo das idéias, não passou imune por essas duas décadas de uma infame Ditadura que se proclamou como uma "ditadura contra a ditadura".
Meus amigos dizem que sou debochado. Creio que esse deboche é uma arma contra o arbítrio, a prepotência e a burrice. A burrice, em si, é anódina, coisa que só faz mal, quando faz, ao infeliz do seu dono. Mas a burrice, quando exercida em nome da liberdade e imposta pela força das armas, se transforma em tragédia nacional. Foi essa a tragédia vivida pelo nosso país.
Uma leitura dramatizada escrita por um debochado confesso, que se despediu da imprensa gaúcha publicando a Carta Testamento de Vargas, no dia 2 de abril de 1964, não poderá, nunca, ser uma leitura leve ou digestiva. Vamos botar para fora, com força e sem eufemismos, os perfis mentirosos e hipócritas dos "democratas" que oficializaram o Brasil como um Estado Assassino. Vamos estripar esse "porco" em público.
Tenho certeza que o nunca esquecido, grande amigo e grande cidadão, Mauricio Rosemblatt, um dos lutadores no então sonho Feira do Livro, gostaria de estar no auditório para exorcizar, conosco, todos os eventuais demônios que possam ainda haver escondido por aí.
Assim será.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, do recém lançado "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
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