Sindicalistas que envergonham o RS

Por José Luiz Prévidi* O Brasil sabe que o Rio Grande do Sul atravessa um mau momento, com uma falta de chuvas que não …

Por José Luiz Prévidi*
O Brasil sabe que o Rio Grande do Sul atravessa um mau momento, com uma falta de chuvas que não acontecia há mais de 60 anos. Quem vive no Estado, de alguma forma, tem prejuízos com a seca. Não se pode culpar ninguém e, mais do que natural, que os maiores prejudicados, os produtores rurais, reivindiquem dos governos uma atenção especial.
Os chamados movimentos sociais não perderam tempo. Paralelamente às negociações conduzidas pelas lideranças de federações, sindicatos e associações, iniciaram "ações" pelo Estado. Uma dessas iniciativas é o bloqueio de estradas. Prejudica a vida de muita gente, mas pode-se até dizer que é uma forma de chamar a atenção para a difícil situação do campo. Todos os veículos de comunicação, dentro de suas possibilidades, noticiam os protestos.
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A RBS, por ser o maior grupo de comunicação do sul do país, tem condições de realizar uma cobertura mais efetiva. No início desta semana estava com uma equipe da RBS TV no município de Sarandi, cobrindo um desses bloqueios de estradas.
Pelo que consta, integrantes desses chamados movimentos sociais, encapuçados, aproximaram-se da equipe, tomaram a câmara do cinegrafista, o microfone e o celular do repórter. Enquanto uns quebravam o carro com golpes de foice, outros jogaram o equipamento dentro do veículo da RBS. Não contentes, atearam fogo. Como num ritual sinistro, davam gritos de "guerra".
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Num primeiro momento, as manifestações sobre o "protesto" foram de espanto e de repúdio, mesmo de integrantes do governo federal e do próprio PT. Nenhuma pessoa com um pouco de responsabilidade poderia agir de outra forma. Não se poderia imaginar que nenhum boçal ou alienado apoiasse uma agressão dessas. Nas redações, a reação de jornalistas e radialistas não foi diferente. Até porque aqueles que não simpatizam com métodos de alguns dos chamados movimentos sociais acreditam que jornais, TVs e rádios do Estado, em sua maioria, noticiam de forma simpática qualquer "ação", particularmente do MST. Por exemplo, a cada dia, nos noticiários, um novo "líder" do MST dá declarações e até mesmo anuncia novas invasões ao lado de autoridades constituídas, ocupando muitas vezes espaços nobres.
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Como era de se esperar, a Associação Rio-Grandense de Imprensa repudiou a "ação" dos representantes do movimento social. E seguiram-se manifestações da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão, Associação Nacional de Jornais, Federação das Indústrias do Estado, entre tantas outras. Claro que a sociedade gaúcha estava esperando uma manifestação dos Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas, porque o cinegrafista Everton Machado e o repórter Leonel Lacerda são profissionais e estavam a trabalho.
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"A atitude dos manifestantes não buscava atingir aos profissionais que executavam seu trabalho. Este gesto visava unicamente atingir à empresa a qual eles prestam serviços, que sempre desvirtua o legítimo movimento reivindicatório destas pessoas. Empresas como a RBS não tem o menor interesse de que estes movimentos sociais tenham voz, pois a empresa defende única e exclusivamente as minorias privilegiadas", afirma o presidente do Sindicato dos Radialistas, Antonio Edisson Caverna Peres, no site da entidade.
Aliás, o ágil e politizado presidente Caverna Peres, no dia em que o carro foi incendiado, estava em tour pela fronteira do Estado, discutindo com a categoria a "possibilidade de construção de um galpão crioulo".
Sobre as notas da ANJ e AGERT, o líder Caverna Peres diz: "Nestas notas, a ANJ, presidida pelo senhor Sirotsky, e a Agert, pelo senhor Motta, se colocam como entidades defensoras da liberdade de imprensa. Neste falso papel que tentam passar, esquecem-se que, na prática costumam agir de maneira adversa ao que pregam. Na realidade, não estariam eles mais preocupados com o prejuízo material que com o humano e o social? Para nós, suas práticas não condizem em nada com o teor de suas notas."
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O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul sempre teve um passado íntegro. Foram várias as iniciativas em defesa dos jornalistas, principalmente nos duros tempos do regime militar.
Hoje, o Sindicato é presidido por José Carlos Torves, que divide momentos de extrema lucidez com manifestações lamentáveis, que maculam sua biografia e envergonham a categoria.
É o caso da nota que assina sobre o episódio acontecido em Sarandi. Leiam o início do "documento": "O presidente do Sindicato dos Jornalistas/RS, José Carlos Torves, lamenta o incidente ocorrido em Sarandi, entretanto lembra que em novembro de 2003 o Sindicato e a Coordenação dos Movimentos Sociais, em Carta entregue a Direção da RBS, alertava para o risco de situações graves, tendo em vista a linha Editorial da empresa de permanente criminalização dos movimentos sociais".
E continua, brilhante: "O Grupo RBS se omitiu e não marcou nenhuma agenda para tratar desta questão, deixando a situação se agravar, colocando em risco os jornalistas que trabalham nos seus veículos. Portanto responsabilizamos a Direção do Grupo RBS por esta situação que pode levar a fatos que ameaçam a integridade física dos profissionais. Também entendemos que a agressão foi cometida contra a RBS (patrimônio) e não contra a imprensa, pois nenhum veículo e nenhum profissional de outros grupos de comunicação que atuam no Estado sofreu qualquer ato de hostilidade por parte dos Movimentos Sociais".
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Portanto, aí está a opinião dos presidentes dos Sindicatos dos Jornalistas e Radialistas do Rio Grande do Sul.
Os dois "líderes" acreditam que a RBS é a culpada pelo carro ter sido incendiado.
Sim, a RBS é a culpada.
Se duvidar, o grupo também é culpado pela seca.
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Será que a reforma sindical não prevê a intervenção em entidades que estejam sendo dirigidas por este tipo de pessoas?
* José Luiz Prévidi é jornalista, editor do site www.preividi.com.br.

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