Sobre a importância dos livros

Por João Paulo Vani

Às vésperas dos feriados de final de ano, época em que nos permitimos fazer balanços e planos para o novo ciclo vindouro, nos tornamos saudosos de nossas memórias, dentre as quais, do tempo de colégio. Muitos são capazes de lembrar do nome da primeira professora, dos cenários que compunham o momento de aprender ou até da cartilha das primeiras letras.

É certo que a capacidade de aprender já nasce com cada um de nós e, esse processo natural reflete a necessidade de sobrevivência. Assim, cada ambiente nos obrigará a desenvolver essa ou aquela habilidade, o que acontece também no ambiente escolar, quando acabamos aprendendo melhor aquilo que o nosso professor preferido ensina. Ou será que aquele professor se torna o nosso preferido justamente por ensinar aquilo que gostamos mais?

De acordo com o professor José Moran, docente aposentado da USP, "educar é colaborar para que professores e alunos - nas escolas e organizações - transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. É ajudar os alunos na construção da sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional - do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreensão emoção e comunicação que lhes permitam encontrar seus espaços pessoais, sociais e de trabalho e tornar-se cidadãos realizados e produtivos". E para isso, muitas vezes é importante que o professor invista na relação com os alunos em sala de aula.

E o livro é, sem dúvida, uma importante ferramenta nesse cenário, um dos ingredientes principais dessa mistura entre o aprender e o ensinar. Didático, ou não, romance ou poesia, os livros tornam a vida mais interessante. E por serem os professores importantes agentes na formação intelectual do indivíduo, são eles que, na maioria das vezes, realizam o papel de incentivar a leitura, de aproximar os alunos dos livros e dos mundos mágicos ali existentes. E essa prática não é nova...

No século XIX, membros da colônia portuguesa envolvidos com as atividades do Real Gabinete Português de Leitura, com o objetivo de atrair mais leitores para um espaço que já caia em esquecimento, fundou o Liceu Literário Português, cujo objetivo era difundir a cultura e oferecer oportunidades de ensino, especialmente para os jovens imigrantes portugueses na cidade do Rio de Janeiro que, em geral, chegavam com pouca instrução ao País. A difusão do conhecimento e o fortalecimento da importância da leitura para aquela comunidade foram fundamentais para a criação de um habitus, conceito desenvolvido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu com o objetivo de esclarecer elementos que permeiam a delicada relação entre indivíduo e sociedade dentro da sociologia estruturalista e está relacionado à capacidade de uma determinada estrutura social ser incorporada pelos agentes por meio de disposições para sentir, pensar e agir.

Motivar a criação de um habitus, como fez o Real Gabinete Português de Leitura ao fundar o Liceu Literário Português pode ser uma decisão indivudual capaz de levar a sociedade a novas escolhas coletivas, como transitar com naturalidade por um espaço de instrução, ou ter prazer na leitura. E, para começar, por que não eleger livros como presentes de Natal?

João Paulo Vani atua como consultor de Comunicação e Marketing.

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