Sociedade civil desorganizada

Por Glauco Fonseca* É no espelho que encontramos o culpado por todo tipo de aumento de imposto. Basta olhar por um instante e zapt! …

Por Glauco Fonseca*
É no espelho que encontramos o culpado por todo tipo de aumento de imposto.
Basta olhar por um instante e zapt! Lá está ele: olhos cansados, aparência fatigada, boca que só abre pra bocejar. Somos nós, flagrados pelo visual manjado de brasileiro que morre nas filas do INSS, que sofre pelas injustiças sociais, que vive marginalizado, desempregado, humilhado. Não tem como se enganar. Basta mirar o espelho e descobrir, entre rugas, cravos e cabelo no cheque especial que os grandes vilões somos todos nós, que até hoje, 20 anos depois do fim da quartelada, ainda não aprendemos nem a votar, quem dirá a espernear.
Nos grandes espelhos a gente pode ver outros tipos de pessoas: as pessoas jurídicas. Elas também são enroladas e não vêem. Quer saber quais as maiores vítimas? Aquelas que exercitam a sua cidadania empresarial, que ajudam suas comunidades, as famílias de seus colaboradores, que pagam colégio, faculdade e até pós-graduação a seus funcionários. Essas empresas aí, que pagam impostos e ainda dedicam parte de sua energia e seus recursos para manter creches, associações, bibliotecas, ambulatórios, que ainda por cima pagam planos de saúde privados, quando não planos de previdência complementar, essas é que são as grandes coitadas.
Agora ainda criaram essas tais de ONG"s, para prestar serviços que o estado é quem deveria prestar. Essas ONG"s acabam ajudando um monte de gente com dinheiro privado, gerado pelo lucro (que é indigno, segundo o grande filósofo Olívio Dutra) e ainda querem isenção de impostos por conta disso. Que petulância dessas ONG"s.
Antes, quem chiava por ter que assinar carteira eram as empresas. Hoje são elas e também os funcionários. Eles é que não querem mais assinar carteira e ter que deixar mais de um terço de seu labor mensal para o fisco e ter que amargar uma aposentadoria oficial faminta e sofrida. O espelho apresenta pessoas que fazem parte mais de uma sociedade natural desordenada do que o contrário.
No dia primeiro de abril de 2005, cada 10 telefonemas que você der, 50% vão para os fiscos brasileiros. Cada litrinho de gasolina, cada quilowatt em sua casa ou empresa, bem mais da metade do que é pago é puro e inútil imposto. E nós aprovamos o aumento do ICMS, mesmo sabendo que as empresas que fabricam TODOS os produtos que nós consumimos terão de aumentar seus preços. TODAS as empresas aumentarão os preços dos seus produtos e nós, bem, nós os culposos, ao invés de consumir menos, falar menos no telefone, deixar menos luzes acesas e andar menos de carro, vamos pagar mais caro por tudo. Pena que por pouco tempo.
Dentro em breve, vamos ter que manter os gastos como eram antes do aumento, pois nossos salários não aumentaram. Assim, as empresas vão faturar menos, terão menos receita da venda de seus produtos e serviços e vão sofrer também.
Os governos não. Eles sabem que mesmo que liguemos menos, que gastemos menos gasolina ou que fiquemos mais tempo no escuro, o valor aquele, calculadinho "por dentro", vai chegar todo mês para manter uma enorme e ineficiente máquina pública, que hoje consome quase a metade do produto interno bruto de nosso sucateado país.
O único consolo é que, agora, pelo menos já sabemos quem são os verdadeiros culpados por tudo isso.
* Glauco Fonseca é consultor.
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