Tinha tudo para dar errado, mas… deu certo!

Por Paulo Gilvane Borges Imagina-se que uma ideia inovadora nasce partir de um momento de rara inspiração, como naquela imagem de histórias em quadrinhos: …

Por Paulo Gilvane Borges
Imagina-se que uma ideia inovadora nasce partir de um momento de rara inspiração, como naquela imagem de histórias em quadrinhos: uma lâmpada se acende sobre a nossa cabeça e "plim", a ideia concebe um projeto acabado e o sucesso está garantido.
Vou contar algumas histórias que até agora eram restritas aos sócios e alguns colaboradores bem próximos.
Era 25 de Janeiro de 2001. Eu estava de férias do meu trabalho de repórter e um tanto desiludido com o meu futuro. Aos 36 anos o meu salário pagava as contas da realidade. Mas não sobrava para os sonhos.
Recebo um convite para divulgar a primeira edição do Fórum Social Mundial para o Interior do RS. "Para chegar ao Interior é rádio", defendi. Montamos uma equipe de quatro Jornalistas. Dois faziam reportagem e dois transmitiam os boletins por telefone às emissoras. Ao final de cinco dias de evento, 80 rádios haviam recebido a nossa cobertura.
A conclusão era óbvia: as emissoras tinham muita carência de conteúdo devido a dificuldades de cobertura fora da sua cidade. Plim: acende-se a primeira lâmpada. E se buscarmos outros clientes que queiram chegar neste universo de rádios como notícia? Plim: e se tivermos patrocinadores que assinem os boletins, relacionando o seu nome a algum conteúdo? Plim: e se, em vez de transmitirmos por telefon Mesmo sem saber, estávamos começando a definir o tal do "modelo do negócio".
O nome da empresa nasceu após rabiscos num guardanapo em uma noite de verão, em Torres: Radioweb.
Pronto, a ideia já tinha nome, agora era só começar a faturar. Quando orçamos o design e a programação do site nos demos conta que não tínhamos o tal do capital inicial. O custo do site era inatingível. Troquei um Palio 98 por um Uno 94. A grana que recebi "na volta" pagava apenas 30% do valor da página. Fiquei com um carro mais velho e sem site. Então procuramos a Procergs, empresa de informática do Governo gaúcho, que nos deu a página pronta e a hospedagem em troca de patrocínio. Tudo graças ao network, outra palavrinha que conhecemos depois.
Enquanto o site ganhava vida íamos cobrindo alguns eventos. E ainda oferecíamos uma cobertura jornalística atualizada, pois era preciso manter o interesse das rádios. Plim: era a tal da "fidelização", outra palavrinha que praticávamos sem saber que ela existia.
Em 23 de agosto de 2001 entra no ar o site da Agência Radioweb. Agora, além de transmitir por telefone, também tínhamos uma página na Internet. Naquela mesma tarde pedi demissão da Rádio Gaúcha. No início da noite a Radioweb era lançada na sede da Associação Riograndense de Imprensa, em Porto Alegre.
Das 100 rádios que começaram conosco, todas do RS, apenas 11 tinham internet. As demais ligavam para um 0800. Um gasto absurdo de telefone. Ou seja, éramos web só no nome.
Em 2004, com a empresa quase quebrada, resolvemos abrir uma sede em Brasília, para dar um "caráter nacional" à Agência, que estava restrita ao mercado do RS. A cobertura foi ampliada.
De 252 rádios afiliadas pulamos para 1.000 ainda no final de 2004. Em maio de 2007 chegamos de 1.500. E em abril de 2011 alcançamos a marca de duas mil emissoras afiliadas.
Por que tinha tudo para dar errado?
Porque era uma aventura criar uma empresa no setor quando já havia um mercado de comunicação consolidado, dominado por grandes grupos.
Por que havia - e ainda há - uma lenda de que jornalista não sabe administrar. Eu no máximo havia somado os litros de leite que meu pai vendia na sua pequena leitaria em Lagoa Vermelha.
Porque o negócio apostava numa tecnologia ainda muito restrita e precária, pois a Internet era para poucos e não tinha banda larga.
Porque os clientes não entendiam o nosso trabalho. Agências de Publicidade nem nos recebiam. O mercado era refratário a propostas que envolviam Internet. A verba já estava planejada para os veículos convencionais.
Por que numa tarde quente de verão tivemos a luz e as linhas telefônicas cortadas por falta de pagamento. Sem dinheiro, sem telefone, sem luz, sem ar condicionado.
Porque em determinada ocasião a dívida da empresa em impostos chegou a representar três vezes o valor do meu único bem: um modesto apartamento no Bairro Azenha, em Porto Alegre.
Por que deu certo?
Porque não sabíamos que poderia ser impossível e fomos em frente, transformando dificuldades em possibilidades.
Porque não sabíamos que este formato de negócio já existia há 169 anos, quando em 1832, Charles Louis Havas aproveitou-se das estradas de ferro e do telégrafo aéreo para distribuir notícias de outros países para os jornais parisienses, criando a Agência Havas.
Porque não sabíamos que outros jornalistas já haviam feito distribuição de notícias para rádios, inclusive com envio de fitas K7 às emissoras que necessitavam de conteúdo.
Ou seja, de uma forma geral, o que estávamos fazendo já havia sido pensado na história da comunicação. Aquelas lampadinhas do "plim" já haviam se acendido noutros momentos, noutras épocas.
Mas quando elas se acenderam para nós naqueles novos tempos, no inicio do Século XXI, aproveitamos cada "plim" que tínhamos como se fosse, sim, uma nova ideia, uma nova inspiração.
A Internet e a rapidez da informação do Século XXI reforçam a máxima de que não há nada que você pense que alguém já não tenha pensado, tentado realizar ou realizado.
No entanto, fomos inovadores ao adaptar o radiojornalismo a uma realidade tecnológica que recém despontava no horizonte. Steve Jobs que nos perdoe, mas fazemos Pod Cast desde 2001
Tivemos criatividade para conjugar os nossos interesses, dos clientes e das emissoras, comercial e editorialmente.
Fomos desbravadores de um nicho de mercado mesmo sem saber direito o que isso significava.
Fomos visionários ao vislumbrar na Internet, ainda lenta, restrita e precária, a grande alavancadora do nosso negócio.
Mas também tivemos competência para compreender que, apesar da nobreza das novas tecnologias, o conteúdo continuava sendo o Rei.
Poderíamos ter desistido se soubéssemos que até grandes grupos de comunicação fracassaram ou encontraram dificuldades em montar serviços de agências de notícias.
Poderíamos ter recuado se tivéssemos dado ouvidos aos que nos aconselharam a não tentar a vida de empresários da comunicação, pois outros já haviam tentado sem sucesso.
Poderíamos ter optado por um bom emprego se soubéssemos que a Agência Radioweb demoraria seis anos para começar a dar lucros.
Mas nós decidimos avançar?
Hoje, nossa equipe produz em média 70 matérias de rádio por dia, que são distribuídas no site www.agenciaradioweb.com.br.
Conquistamos a confiança de mais de duas mil emissoras comerciais, comunitárias e educativas que utilizam nosso conteúdo diariamente. Estas emissoras realizam mais de oito mil downloads diários da nossa página. A cada 10 segundos um boletim da Agência Radioweb é ouvido através de alguma rádio brasileira.
Cada matéria hospedada na página nacional é veiculada em no mínimo 300 emissoras.
Por coincidência - ou não - ao fazer 10 anos estaremos prestes a alcançar a marca 10 milhões de downloads do nosso site.
Quanto ao alcance, chegamos a 120 milhões de ouvintes potenciais, considerando apenas a cidade-sede de cada emissora afiliada.
Somamos 40 prêmios de jornalismo, entre eles dois internacionais e oito nacionais, uma demonstração incontestável da competência da nossa equipe e da credibilidade do nosso jornalismo.
E, por fim, 20 dias antes do nosso aniversário, em três de agosto, assumimos a administração e a programação da Rádio Justiça 104.7, emissora do Supremo Tribunal Federal (STF) com sede em Brasília, com 25 KW de potênci Nestes 10 anos me convenci de que não há ideia, por melhor que seja, que possa ter sucesso sem perseverança, paciência, profissionalismo, serenidade e uma boa dose de bom humor.
Que o modelo do negócio pode oferecer uma boa perspectiva de mercado, mas isso, por si só, não garantirá o sucesso da empresa.
Que há muitos momentos de escuridão, por isso é necessário estar sempre acendendo luzes pelo caminho.

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