Tributo aos vilões

Por Rogério Teixeira Brodbeck* Examinando nossa filmografia recente, cheguei à indigitada conclusão que nossos cineastas tupiniquins têm preferido dedicar-se a realizar filmes destinados a …

Por Rogério Teixeira Brodbeck*
Examinando nossa filmografia recente, cheguei à indigitada conclusão que nossos cineastas tupiniquins têm preferido dedicar-se a realizar filmes destinados a causar comoção no distinto público espectador e a promover vilões a heróis. Seja quando incursionam por uma gare de passageiros ("Central do Brasil"), mostrando o analfabetismo espiritual, a pobreza material e a miséria e que, aos incautos, soa como se o país todo fosse assim, como quando mostram a selvageria de uma "Cidade de Deus", onde a bandidagem precoce alia-se à violência desmesurada de crianças que parecem não ter outro futuro a não ser saquear e explorar inocentes, numa face triste deste Brasil tão verde-amarelo e tão cheio de riquezas nunca jamais mostradas a quem quer que seja ao menos via celulóide (ainda é assim?). Ou em "O que é isso, companheiro ?", em que a apologia ao seqüestro, ao terrorismo, e à criminalidade são a tônica.
Não satisfeitos com esse horror, vão, nossos preclaros candidatos ao Oscar - que alguns menosprezam, dizendo, à moda do sapo, que não queriam tal troféu porque é o símbolo do país opressor e outras baboseiras mas que diante da derrota vociferam críticas a mais não poder com o apoio da mídia, claro - buscar outras mazelas da violência como em "Carandiru", verdadeira elegia dos encarcerados, impiedosamente tombados pelos homens maus, fardados de policiais, que encarnam o Leviatã poderoso e cruel. Ou ainda, tecem loas a figuras que jamais chegarão a heróis porque lhes falta o sentimento do dever, do caráter, do bom exemplo ou do civismo ou do amor à Pátria. Assim, levaram nossos cineastas às telas coisas como "Lamarca", desertor do Exército, guerrilheiro e traidor, "Diário de uma motocicleta", onde se mostra um Che jovem, saudável, destemido e aventureiro, precursor daquele incapaz do Exército argentino, guerrilheiro das selvas, terrorista cruel e sanguinário, "Cazuza" , compositor e músico notável mas que cheirou, fumou, se picou a mais não poder e se entregou a orgias promíscuas, tudo sob o olhar beneplácito de quem deveria torcer o pepino desde pequenino, como na cena em que, com 15 anos ainda, empunha uma garrafa de uísque durante um show de sua então incipiente banda.
Será que falta imaginação a esses diretores para filmar um José Bonifácio, um Bento Gonçalves, uma Casa das Sete Mulheres, um épico de resistência aos holandeses de Maurício de Nassau, ou aos franceses ou?? Por que nossa filmografia não conta histórias edificantes, exemplares, de pessoas de bem, de seus atos, de suas vidas que realmente podem influir no comportamento desses jovens que assistem Cazuza e o acham um herói? Não estaria na hora de as boas coisas desse país tão lindo, extenso, rico e adorado pelos que aqui vêm do exterior serem mostradas? Por que não filmamos um "O Patriota", ou um "O Último dos Moicanos"? Será que não temos mais nada a mostrar do que matanças em presídio, meninos com 12 anos pegando em armas ou uma velha escritora de cartas numa estação de trem, ou desertor matando, roubando, a pretexto de defender a democracia (!), ou um músico viciado, morto por atividades digamos promíscuas? Onde estão nossos heróis? Enterrados num cemitério qualquer, sem flores nem pensões vitalícias nem indenizações milionárias com seus descendentes sendo pessoas normais, anônimas, humildes e pobres. Chega de tributos a pseudo-heróis. Vilões, já os temos todos os dias. Basta ligar a TV.
* Rogério Teixeira Brodbeck é jornalista, advogado e coronel da reserva da Brigada Militar.
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