Trufas na Praça Vermelha

Por J. A. Moraes de Oliveira Leio no The New York Times que foi inaugurado em Moscou o Turandot, que já nasce com a …

Por J. A. Moraes de Oliveira



Leio no The New York Times que foi inaugurado em Moscou o Turandot, que já nasce com a fama de ser o restaurante mais luxuoso do mundo. Eu sempre sonhei em jantar num lugar assim - exótico, caríssimo e absolutamente inacessível aos gourmets do terceiro mundo.


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Fiquei intrigado com a denominação Turandot. Um restaurante com nome de ópera italiana instalado a duas quadras do Kremlin?


Eu já ouvira falar em um certo Madame Butterfly em Tóquio e de um La Bohème em Milão, mas demorei para entender as sutilezas destas denominações. Fui investigar com mais atenção.


Descobri que no Madame Butterfly serve-se comida fusion, ou seja, pratos japoneses com alguns toques californianos. E o La Bohème é um restaurante francês com decoração em estilo boêmio. Mas e o Turandot?


Elementar! Como a ópera de Giacomo Puccini se passa na China, devemos supor um cardápio de alta cozinha asiática.


A matéria do NYT confirma: no comando da cozinha temos o inglês Halan Yau, o único chef de especialidades asiáticas agraciado com duas estrelas pelo Guide Michelin. No cardápio, desde robalo chileno grelhado em mel chinês, até costelas de cordeiro cozidas com molho de café da Turquia.


E existem outros motivos para ficarmos espantados com a nova realidade da ex-pátria do comunismo. O dono, Andrei Dellos, um empresário russo de sucesso, investiu algo entre 50 a 60 milhões de dólares para abrir o novo templo da gastronomia.


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No Turandot tudo é glorioso e rebuscado, como uma disneylândia rococó. Na entrada, somos recebidos em um pátio revestido em mármore italiano que conduz a um salão redondo de pé-direito duplo, ornado com afrescos das paredes ao teto e mobiliado com mesas e cadeiras douradas, talhadas à mão.


As colunas são enfeitadas com trepadeiras folhadas a ouro e sustentam o mezanino, que exibe uma cúpula de fundo azul, decorada com nuvens em formato de cirrus e nimbus.


Mais de uma tonelada e meia de candelabros de cristais pende acima de nossas cabeças. Admiramos outros ornamentos: uma harpa e a reprodução de um pavão dourado do século 18 (o original pode ser admirado no Museu Hermitage, em São Petersburgo), pousado em uma árvore igualmente dourada.


O complexo do Turandot está em uma área de 26.500m2, mas o restaurante ocupa apenas uma parte desse espaço. No subsolo, uma imensa garagem subterrânea de 400 vagas duplas, para abrigar as grandes limos Mercedes e Bentleys.


Este palácio rococó não será a última obra do excêntrico Sr. Andrei Dellos. O Turandot é apenas o primeiro de uma trilogia de restaurantes temáticos, prometida pelo milionário russo. Haverá mais dois, ainda mais imponentes - um em estilo de villa italiana e o outro, recriando um palácio da Rússia imperial.


Por enquanto, teremos que nos contentar em desfrutar das maravilhas da cozinha asiática, servidas por 50 garçons usando peruca e vestidos à moda do século 18, enquanto ouvimos concertos ao vivo, executados no centro do salão por músicos da Filarmônica de Moscou.


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Para o grand finale de nosso jantar, podemos escolher uma das obras-primas assinadas por Emmanuel Ryon, o renomado pâtisseur francês, mestre na arte dos sorvetes e bolos gelados e que está fazendo o maior sucesso entre os abonados comensais do Turandot.


Serão seis trufas quentes de chocolate, recheadas com cerejas silvestres dos Montes Urais e regadas por um autêntico Napoleon de 25 anos. Tudo isso por módicos 250 dólares.


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Trufas milionárias servidas à sombra do Kremlin não parecem uma tardia vingança dos Romanoff?


 

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