Um mundo mais verde

Por Sérgio Capparelli Um homem da região dos Urais, na Rússia, sentiu dores no peito e foi diagnosticado câncer. Os médicos marcaram a cirurgia …

Por Sérgio Capparelli

Um homem da região dos Urais, na Rússia, sentiu dores no peito e foi diagnosticado câncer. Os médicos marcaram a cirurgia para a semana passada, no Hospital Izhevsk. Quando abriram o peito do paciente, ficaram surpresos. Ele não tinha câncer, mas um broto de abeto, árvore muito comum na região.


O responsável pela cirurgia, Vladmir Kamashev, disse que estava para cortar uma grande parte do pulmão do paciente de 28 anos, Artyom Sidorkin, quando percebeu o broto de árvore já com uns cinco centímetros.


Quando essa notícia chegou na semana passada a Londres, um jornalista foi consultar um especialista do Jardim Botânico Real, de Londres. Podia, sim, uma semente germinar em alto grau de umidade e no escuro de um pulmão.


Não se trata, portanto, de literatura, apesar de Boris Vian ter publicado L?Écume des jours em 1947, em que o personagem principal, Colin, apaixona-se por Chloé, jovem, bela, mas frágil. No pulmão de Chloé nasce um nenúfar, popularmente conhecido como bandeja-d´água. Desesperada, ela foge e vai morar numa montanha. Quando volta, o nenúfar desapareceu, mas ela está com apenas um dos pulmões. Até que? bom, melhor ler A Espuma dos Dias, desse autor. A citação é apenas para mostrar que o broto de abeto que apareceu no pulmão do russo é uma variante do nenúfar que nasceu no pulmão de um personagem literário.


Mas vamos voltar à cirurgia de extirpação de uma muda de abeto do pulmão de Artyom Sidorkin. Por quê? Porque deveríamos ouvir também um especialista em doenças respiratórias. Quem cuidou disso foi o próprio jornalista do Guardian. O escolhido? Professor Simon Johnson, da Universidade de Nottingham. Ele disse que sabia de um caso em que esporos de mofo se desenvolveram no pulmão de um paciente, mas que era a primeira vez que ouvia falar de um broto de árvore. Estava tranquilo, porém: não iria crescer muito, porque mais cedo ou mais tarde Vladmir iria tossir e cuspir sangue.


Acho que ele tem razão. Porque se não tivesse, apareceriam estranhos experimentos na crise em que estamos vivendo. Com poucas terras disponíveis, a Embrapa poderia, por exemplo, estudar a produtividade da soja em pulmão de fumantes. Brincadeira! Estou sendo cruel. Para consertar esse deslize: as pessoas não precisariam de chapéu, pois estariam sempre à sombra, e o mundo ficaria finalmente mais verde.  


* Sérgio Capparelli é jornalista e escritor, colaborador de Coletiva.net.

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