Uma imersão no Vale de ideias

Por Kim Gesswein e Taísa Brambila O Vale do Silício é pulsante em vários sentidos. Lá estão empreendedores que querem mudar o mundo e …

Por Kim Gesswein e Taísa Brambila
O Vale do Silício é pulsante em vários sentidos. Lá estão empreendedores que querem mudar o mundo e pessoas dispostas a construir soluções em conjunto para problemas cotidianos. Lá também estão as gigantes da tecnologia, a Universidade de Stanford (com maior número de Prêmios Nobel do mundo), milhares de makers spaces e uma grande fonte de boas práticas.
De lá saem vários códigos aspiracionais corporativos que inspiram empresas de todo o mundo. Estes códigos vão muito além dos clichês de escritórios descolados, estações de trabalho em pé e videogames nas salas de reunião, não que isso realmente não exista, mas a verdade é que a visita à região nos trouxe muito mais do que imaginávamos. Não vamos discutir aqui avanços tecnológicos, computação ou a qualidade dos escritórios, mas sim um pouco dos valores e da cultura do lugar.
As pessoas têm disponibilidade
Um choque cultural muito grande foi a extrema gentileza e disponibilidade das pessoas em receber-nos nas empresas, para um papo, uma aula ou mesmo um café sem compromisso.
Enviar um cold e-mail dá quase 100% de certeza de resposta e uma grande chance de a pessoa receber você para trocar uma ideia. Ela provavelmente vai ser muito aberta com relação ao modelo de negócio dela, vai perguntar sua opinião sobre esse negócio e vai se interessar de maneira muito genuína em saber o que você faz, seus interesses e sobre como vão as coisas no Brasil.
Sempre existe tempo para a troca e para uma conversa interessante. Fazer networking vai muito além de trocar cartões.
As pessoas não têm medo de falhar
Muito pelo contrário. A falha é vista como uma oportunidade de aprender muitas coisas no contexto de empreendedorismo. Exemplo disso é o evento FailCon, que ocorre em San Francisco e reúne empreendedores explicando motivos pelos quais falharam em seus negócios e com isso geram conhecimento para o mercado empreendedor.
O feedback é algo muito valorizado no Vale. A perfeição é vista como a eterna reinvenção a partir desses feedbacks.
As pessoas fazem, não só falam que fazem
Concretizar ideias, seja prototipando ou testando modelos de negócio, é um princípio básico. É um pouco subversivo pensar que alguns empreendedores do Vale acreditam que a maior parte do tempo de um projeto deve ser dedicado à execução e à etapa de testes do que no planejamento em geral. Lá eles costumam dizer que planejamentos complexos e burocráticos para mais de três meses, principalmente em tecnologia, não passam de um chute.
No Evernote, ouvimos uma máxima segundo a qual "pedir desculpas é muito melhor do que pedir permissão". Isso resume um pouco da postura dos times onde existe uma autonomia para arriscar e inovar.
O poder está na comunidade
A premissa de que não existe time de um homem só e de que uma ideia nunca será tão genial que não dependerá de uma boa execução e de um excelente time impera no pensamento do Vale.
O conceito de colaboração é muito discutido dentro das empresas e as pessoas efetivamente trabalham em comunidade. Em alguns casos, construir projetos em conjunto com o cliente pode ser uma excelente jogada, afinal, ninguém melhor que ele para saber o que realmente quer e precisa.
A onipotência de uma empresa criar um produto sozinha, sem validar se o cliente efetivamente quer aquele produto ou serviço, já morreu faz tempo por lá.
"Freamos um pouco os investimentos no Brasil porque existe uma cultura de sigilo absoluto com as ideias, os empreendedores não são familiarizados com a ideia do trabalho colaborativo" - em um primeiro momento, as palavras da executiva do Silicon Valley Bank podem soar um pouco duras, mas não foram as únicas que trouxeram a percepção de que em geral os empreendedores do Brasil lidam com suas ideias e trabalham de uma forma muito mais fechada e temerosa.
Eles também costumam dizer que "se alguém colocou a sua ideia na rua antes de você é porque você não merecia tê-la tido". Que tal essa?
A diversidade é palavra de ordem
O poder está na comunidade. E numa comunidade obrigatoriamente muito diversa em todos os sentidos. Observar um mesmo problema sob as mais diferentes perspectivas é algo que 100% das empresas estão buscando no Vale.
Andar pelos escritórios gigantes observando bandeiras de vários países e as mais diversas formas de expressão e também trocar ideias com essas pessoas que pensam bastante diferente foram as coisas que mais fizemos na viagem. O ambiente de trabalho convida e encoraja a expressar a diversidade e os papos provocam a abrir muito mais a cabeça.
A filosofia é ser empreendedor com aquilo que se tem
Independentemente de você ter uma startup numa garagem em Palo Alto ou trabalhar no Facebook, que hoje tem mais de 9 mil funcionários no mundo inteiro, você deve ser um empreendedor com aquilo que você tem.
As pessoas têm a ideia de que para ser empreendedor você precisa se demitir e começar um projeto novo, quando na verdade as empresas estão cada vez mais estimulando os seus funcionários a criarem produtos e projetos, atuando como investidoras dessas iniciativas.
O Google, por exemplo, tem um sistema de startup que estimula seus funcionários a uma vez por semana perseguirem problemas e sugerirem opções de novos produtos. Foi assim que surgiu o Gmail, hoje uma das maiores redes de e-mail do mundo.
O fato de você adorar andar de bicicleta não fará com que as pessoas paguem para assistir você pedalar. Mas se você conseguir chegar em uma ideia de criar uma empresa que promove o aluguel de bicicletas de forma acessível você pode ficar milionário. O exemplo usado simplesmente traz a ideia de que a dica do Vale é "monetizar os seus interesses" para ser feliz (e rico) seja dentro ou fora de uma grande empresa.
Antigamente, cursos, workshops e imersões eram diferenciais competitivos no ambiente corporativo. Hoje fazer um curso e não compartilhar com o máximo de pessoas possíveis é estupidez. Uma das coisas mais interessantes que ficaram dessa experiência é a vontade de disseminar essas práticas para o máximo de pessoas possível. A troca de ideias, a colaboração e a divisão do conhecimento é o que faz o Vale ser tão sedutor para quem gosta de desafios reais. Mas o poder de transformar o ambiente à nossa volta está nas ideias que o lugar exporta, com isso todos temos o poder de promover alguma mudança.
Não adianta só pregar. O importante é praticar o que você prega. ??
Kim Gesswein e Taísa Brambila trabalham na Paim Comunicação e fizeram uma imersão no Vale do Silício no final de novembro de 2014. O curso Journey é oferecido pelo co-working carioca Templo, e propõe aulas e atividades práticas em empresas do Vale do Silício como o Google, Facebook, Airbnb, Silicon Valley Bank, Twitter, Stanford University, LinkedIn, Evernote e Salesforce.
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