Uma profissão em mutação

Por Marco Piquini* Em 2004 completo dez anos de comunicação empresarial. E como todo jornalista, não posso ver um número redondo sem me sentir …

Por Marco Piquini*
Em 2004 completo dez anos de comunicação empresarial. E como todo jornalista, não posso ver um número redondo sem me sentir atraído a fazer uma análise histórica. Ainda mais, neste caso, por tratar-se de uma década de minha vida. Passando a régua sob este período, concluo que não tenho do que reclamar. Mas o começo não foi fácil.
Ao sair de O Estado de S.Paulo, em 1994, e "pular o balcão", como centenas de jornalistas fizeram e ainda fazem, entrei em crise. É um choque trocar o livre-pensar das redações pela necessidade de se fechar dentro da linha de comunicação oficial de uma empresa. Rapidamente veio a óbvia constatação de que embora um jornalista possa praticar a comunicação empresarial, esta não é jornalismo. É outra profissão: exige outra cabeça, outra postura, uma transformação. Nem todo jornalista consegue fazer esta passagem, mas não se pode dizer que há algo de errado com aqueles que conseguem.

Muitos jornalistas, mesmo sem o dizer, consideram este "outro lado" um tanto indigno, imaginando o assessor de imprensa como uma pessoa sem ética, exclusivamente dedicada a cavar espaço nos jornais enquanto serve de muro entre o repórter mais curioso e sua empresa. Nada mais longe da realidade.
Ao mesmo tempo em que, nos últimos anos, o fator imagem transformou-se num diferencial competitivo para uma empresa, a comunicação empresarial conquistou um espaço cada vez maior dentro do organograma, já que a comunicação provou ser uma ferramenta importante na complexa tarefa de construção e manutenção da credibilidade corporativa.
De apêndice do RH ou do marketing, a comunicação subiu na hierarquia e, em muitas empresas, responde direto ao presidente. E o trabalho realizado vai além do relacionamento com a imprensa: comandamos eventos de lançamento de produto e participamos do relacionamento com o poder público e a comunidade e da política de recursos humanos. A comunicação empresarial é uma interface de integração entre todos os setores de uma empresa. Essa multiplicidade de ações tem exigido dos profissionais da área uma constante revisão, atualização e ampliação de conhecimentos. A prática das relações públicas é necessária, mas sozinha não é mais suficiente. O setor tem melhorado com a técnica profissional trazida por jornalistas. Know-how de marketing e propaganda são também bem-vindos.
O comunicador empresarial, esse profissional em plena mutação, vive um momento de enormes e estimulantes desafios. A área nunca esteve tão aberta a novas propostas e novas idéias. E nunca pagou tão bem. Nestes dez anos "do lado de cá", descobri uma profissão tão nobre quanto outra qualquer, e que só tem evoluído nos últimos anos, com reconhecimento e valorização dentro das empresas e pela expansão no mercado das agências de comunicação empresarial.
Ainda hoje, ao fazer o check-in num hotel, me identifico como "jornalista", conforme aponta o meu registro no Ministério do Trabalho. Não conseguiria escrever "assessor de imprensa", designação que não traduz a verdade de meu dia-a-dia. Mas poderia cravar, com satisfação e a consciência tranqüila, "gestor de comunicação".
* Marco Piquini é jornalista e gerente de comunicação da Fiat do Brasil. O artigo foi publicado originalmente em "Comunicação Empresarial", 3º trimestre de 2004.

Comentários