Uma reportagem com fundamento

Por Hélio Ademar Schuch A manchete do jornal Zero Hora deste domingo (31/1) é curta e não tem verbo, mas anuncia um trabalho de …

Por Hélio Ademar Schuch
A manchete do jornal Zero Hora deste domingo (31/1) é curta e não tem verbo, mas anuncia um trabalho de jornalismo investigativo de qualidade - "Os infiltrados", relato sobre agentes do regime militar que se misturavam entre militantes de organizações de esquerda após o golpe de 1964. Feita na forma de série, em quatro edições consecutivas, o seu complemento multimídia traz depoimentos em vídeo e áudio,  documentos e fotografias, que podem ser acessados no site http://www.clicrbs.com.br/zerohora/swf/infiltrados/index.html
É o típico "esforço de reportagem" porque pode-se imaginar o trabalho que foi consumido na garimpagem de informações e de fontes, além da criatividade na criação desta pauta (e também do site). Ela aparece 25 anos depois da redemocratização do país, que  é o seu "gancho", mas também em um momento em que o anúncio do Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) tornou-se polêmico.
O PNDH-3, assinado em dezembro pelo presidente da República, e que deve ser submetido ao Congresso Nacional, trouxe pontos que provocaram fortes reações, a favor e contra. Entre eles, três chamaram mais a atenção: 1) intervenções nas empresas jornalísticas, 2) levantamento de fatos (mortes/torturas) ocorridos durante a ditadura militar, 3) reforma agrária.
Sobre os dois primeiros deve imperar as regras da democracia: liberdade para a manifestação do pensamento e de informação e transparência. Da mesma forma que não pode haver nenhum tipo de censura prévia ou monitoramento nos veículos jornalísticos, também não deve ser impedida qualquer investigação.
(Seria interessante que a atenção com a nossa Constituição fosse um hábito, como tinha o ex-presidente Eurico Gaspar Dutra, que, reza a lenda, quando alguém vinha com alguma proposta política, dizia: "Vamos ver o que diz o livrinho" (a Constituição permanecia em sua mesa de trabalho, num porta-livro, para consultas)).
A reportagem é uma prova de como não pode haver controle na imprensa, pois informa, livremente, sobre um assunto que sempre esteve envolto em segredos governamentais, oferecendo ao público um conhecimento extremamente importante e que, agora, pode ser usado (a regra da transparência); e  mostra como a vontade de reforma agrária por agricultores que montaram acampamento em Encruzilhada Natalino (município de Ronda alta) foi motivo para atuações de "infiltrados". Como se vê, a ditadura não queria a reforma agrária, mas a democracia tem muito a ver com a questão agrária brasileira, que deve ser resolvida, de vez.
Parabéns à equipe da reportagem.

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