Valsa com Bashir, um novo jeito de fazer documentário

Por Carolina Zogbi Quando ouvimos falar em filmes de “animação”, o que vem em nossas mentes? Desde ricas produções, como Avatar, até as menos …

Por Carolina Zogbi
Quando ouvimos falar em filmes de "animação", o que vem em nossas mentes? Desde ricas produções, como Avatar, até as menos conhecidas, mas que, ainda assim, levam crianças (e muitos adultos) ao cinema. Isso até você assistir ao documentário animado "Valsa com Bashir" (?Vals Im Bashir", 2008), de Ari Folman. Certamente podemos considerar esta película; ganhadora de numerosos prêmios, como o de melhor filme estrangeiro no British Independent Film Awards, do Público em Varsóvia, em Cannes, nomeado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; como um documentário animado. Também enquadra-se na forma contrária: uma animação em forma de documentário.
O cineasta israelense, além de trazer um novo subgênero para o documentário, aborda um assunto sério e verídico para as telonas: o massacre dos palestinos, em 1982, no Líbano, quando estavam em guerra com Israel. Por causa do assassinato de seu líder israelense, Bashir Gemayel, milícias cristãs invadiram os campos de refugiados palestinos e mataram centenas de mulheres, crianças e idosos, em setembro de 1982. A atitude do exército de Israel foi omissa e permissiva, cuidando da entrada dos exterminadores e iluminando os campos à noite. Neste exército estava o futuro diretor do filme, que causou muita polêmica depois de lançado, principalmente em sua terra.
A produção de US$1.500.000 retrata as memórias de guerra do próprio soldado, que agora, na condição de roteirista, tem a oportunidade de resgatar suas dúvidas e muitos acontecimentos que ficaram apenas como passagens em branco na memória. Depoimentos de colegas de batalha e conversas com um psicólogo são mostrados em forma de documentário, transformadas em animação. O assunto, apesar de real, é transmitido de forma desenhada, com alguns elementos imaginários. No meio de lembranças dolorosas, que foram apagadas e começam a ter formas no decorrer da trama, os acontecimentos recordam delírios mesclados com alguns elementos psicodélicos.
O que também marca o filme é a narrativa sobre alguns episódios da guerra, antes não relatados em outras produções, de uma forma leve. A maneira diferente de realizar o documentário foi uma tentativa do cineasta israelense de aproximar um público mais jovem para as questões ligadas às guerras, podendo ser um novo meio de conhecimento, cumprindo assim um dos principais objetivos de um documentário: aproximar a realidade do público.
Deixando de lado questões étnicas, políticas e de qualquer outra ordem, a película difere do convencional feito até o momento. Não deixa nada a desejar e consegue retratar um assunto tão relevante de uma maneira interessante e nova.
Além de ser uma nova idéia no gênero, é uma dívida que o próprio cineasta finaliza consigo. Ao recuperar suas lembranças, o israelense assume seus erros e o mesmo tempo se perdoa pelo que ocorreu. Uma idéia inovadora, sem cair no clichê. Nota dez. Que outros assuntos e novas maneiras de fazer cinema nasçam desta tentativa de inovar.

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