Venda de notícias: devagar com o andor!

Por Luiz Fernando Aquino Notícia, em tese, lembra instantaneidade, certo? Nem tanto. Ou, melhor, deveria. Mais: vendem-se notícias? Sim, vendem-se. Pior: anuncia-se a vendade …

Por Luiz Fernando Aquino

Notícia, em tese, lembra instantaneidade, certo? Nem tanto. Ou, melhor, deveria. Mais: vendem-se notícias? Sim, vendem-se. Pior: anuncia-se a venda
de notícias. Afinal, todo produto precisa ser propagandeado, não é mesmo? Daí o inusitado de, durante a tarde, ver um "anúncio" de um telejornal da
manhã seguinte com as chamadas das notícias. Tá bem, sabemos todos que o processo dá-se assim mesmo, que se fecha uma edição (telejornal ou radiojornal) matutina no dia anterior. Que o dia mesmo serve apenas para uma leitura de jornais, previsão do tempo, uma ronda no trânsito e estamos conversados.


Agora, convém uma dose de prudência, ao menos. Nesses dias de horror vividos pelos irmãos catarinenses, dou de cara com uma repórter sorridente
"vendendo" as notícias do dia seguinte, como quem anuncia tomates na feira de sábado: "E veja também (sorrisão largo) as últimas informações da tragédia catarinense". Deus meu, embrulhamos tudo, ética, bom senso, equilíbrio, sensatez? Tudo soterrado no deslizamento do jornalismo comercial.


Não sejamos alices, empresas vivem de lucros. Ganhar dinheiro não é feio, de jeito maneira. E o que mantém as empresas de comunicação são os anúncios, e estes são atraídos e/ou conquistados pela capacidade de audiência do veículo. Logo, é razoável que essa embalagem seja bem feita. Notícia é, sim, um produto. Um produto à venda. Que disputa espaço nas prateleiras (bancas), que é entregue logo cedo em casa.


Ora, se temos um produto à venda e temos um consumidor, esse consumidor de notícias é atraído pelo rótulo da imparcialidade e/ou da instantaneidade.
"Aqui, a notícia é correta e em primeira mão", ouve-se. "Aqui, você está mais bem-informado." E tantos outros rótulos para essa embalagem diária.


Convém perguntar: o mito da imparcialidade tem mais importância para o tratamento correto com as fontes de informação ou ela é tão-somente (mais) uma estratégica pretensão de um produto que precisa chegar antes às mãos do consumidor?


O pior é o sofisma que se apresenta toda a vez em que a mídia tem seus pressupostos de atuação questionados: diante da crítica, arvore-se em nome da ampla liberdade. Uma vez all free, faz o que bem entende, e quem se sentir prejudicado que vá se queixar ao? (quem mesmo???). A vã liberdade, definitivamente, não pode ser lugar para atropelos como esse de anunciar, com um sorrisão-colgate, o flagelo humano, ainda que seja para se vender. Há maneiras mais dignas de "fidelizar clientes".

Luiz Fernando Aquino é jornalista.


 

[email protected]

Comentários