AIDS Corporativa

      Desde 11 de setembro passado fomos assaltados por uma sensação permanente de insegurança. Não se tornou ainda pânico. É um mal-estar, um incômodo, um …

      Desde 11 de setembro passado fomos assaltados por uma sensação permanente de insegurança. Não se tornou ainda pânico. É um mal-estar, um incômodo, um medo de algo que virá.
      O símbolo da segurança mundial eram os Estados Unidos, até 11 de setembro de 2001. Mais ainda, Nova York. Mais ainda, os ícones do capitalismo mundial. Um grupo de 21 barbudos malucos, com dois aviões, pôs tudo abaixo. Se muitos podem ter vibrado pelo fato da arrogância e prepotência americanas terem sido fortemente abaladas, muitos também ficaram com medo, se perguntando: se nos EUA não temos mais segurança, onde teremos? Foi uma espécie de paradoxo daquele momento.
      No mundo dos negócios, os EUA continuavam como símbolo da segurança, seriedade e profissionalismo. Um país acima de qualquer suspeita. As empresas lucravam fantasticamente, eram auditadas pelas grandes do setor, o mar parecia calmo. Passou a ficar revolto e enfrentou uma tempestade que ainda não acabou a partir dos escândalos contábeis da Enron e WorldCom. Uma das "big six" de auditoria mundial, a Arthur Andersen, aprovou o balanço da Enron. Hoje, foi divulgada a descoberta de uma nova fraude contábil na WorldCom, de US$ 3,3 bilhões.
      Estes dois eventos somados resultam em várias leituras:

- O colapso do sistema capitalista, atingido em seus maiores ícones;

- A perda total de confiança nas grandes empresas, que passam a ser vistas como centros de maquiagem de informações;

- A perda total de confiança nas empresas de auditoria, que igualmente passam a ser vistas como empresas de maquiagem de informações.
      Não concordo com nenhuma das leituras acima e a que faço é a que há uma crise de confiança total no mundo dos negócios. As fraudes contábeis são a Aids do mundo dos negócios. Mas não há preservativo para evitar o contágio. Todas as empresas estão passíveis de serem "contaminadas".
      Naturalmente, a esmagadora maioria das empresas, pessoas, executivos e empresas de auditoria continua desenvolvendo um trabalho sério e profissional. O que analiso agora é o efeito que estes escândalos provocam e a leitura que o mercado acaba fazendo deles. Devastador e macabro são os adjetivos que posso utilizar para qualificar esta síndrome do mundo dos negócios, a AIDS corporativa.
* Com a especial colaboração de Eugênio Esber
( [email protected])

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