Mudança de hábito

      Venho sistematicamente trazendo informações nesta coluna sobre mercados esquecidos, ignorados ou mal explorados por parte das empresas. Já falei do poder de consumo das …

      Venho sistematicamente trazendo informações nesta coluna sobre mercados esquecidos, ignorados ou mal explorados por parte das empresas. Já falei do poder de consumo das classes C, D e E, do mercado da terceira idade (recentemente) e do mercado gay, entre outros.
      Hoje, o foco é sobre dois mercados que, apesar de já serem devidamente explorados pelas empresas, estão sofrendo grandes transformações: mulheres e adolescentes.
      Sobre a mulher, é preciso que pensemos em fugir de estereótipos. A Amélia, como abordou Nelson Blecher na última edição da revista Exame, não existe mais. As mulheres ingressaram fortemente no mercado de trabalho. Com isto, novas demandas foram geradas. Querem ter representatividade (e já têm, ao menos nas empresas, onde ocupam inúmeros cargos de direção e chefia. A política ainda é um dos últimos redutos do Clube do Bolinha, mas rumando para a extinção), querem consumir, enfim, querem fazer valer a sua opinião. Para ilustrar, alguns dados: as mulheres, nos EUA, compram ou influenciam diretamente na decisão de compra de 80% dos produtos. Seus gastos (mulheres nos EUA) alcançam US$ 3,5 trilhões. No Brasil, quadruplicou em somente uma década o número de mulheres que assumiram cargos gerenciais ou exercem profissões liberais. Hoje, 40% dos automóveis são comprados por mulheres; há 15 anos, 17%.
      Todas estas mudanças na influência que exercem nos lares e empresas e, por conseqüência, no país e no mundo, geraram mudanças radicais no comportamento delas. E é preciso que as empresas estejam atentas para que ofereçam produtos e serviços adequados. Caso contrário, vão empoeirar nas prateleiras.
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      Com relação aos adolescentes, recente pesquisa da Unicef mostra como mudou a visão de mundo e comportamento dos jovens. Foram pesquisados 5.280 adolescentes brasileiros (pessoas entre 12 e 18 anos; totalizam 21.249.557, no Brasil). Algumas mudanças chamam a atenção: gastam praticamente 4 horas à frente da TV. Portanto, o poder desta mídia junto a este público é fortíssimo, tanto para formação quanto para informação. A TV é uma das duas (a outra são os amigos) fontes de lazer dos jovens, o que reafirma a importância deste meio de comunicação. Ocupando a TV tanto espaço na vida do jovem, suas concepções e visão de mundo mudam. É um mundo muito mais globalizado, instantâneo e visual. Possivelmente muito mais superficial em suas relações, como já vêm demonstrando os jovens, que cada vez mais "ficam", ao invés de namorarem por mais tempo.
      Outro dado sobre os adolescentes é o percentual destes que acham que o investimento em educação é uma forma de acabar com a pobreza: somente 5%, enquanto 42% acreditam que a forma do governo acabar com a pobreza é gerar empregos e 23% acreditam que seja investindo em ações sociais.
      Na realidade, são os adolescentes e jovens que estão demonstrando e acusando mais rapidamente as mudanças do mundo. Não é difícil de compreender. Há pouco mais de 30 anos, as portas dos edifícios ficavam sempre abertas. Muitas vezes, as portas de entrada dos apartamentos também. As casas não tinham os muros de grade. Portanto, era comum que as crianças tivessem turmas de amigos do bairro. Hoje, as crianças se encontram em locais fechados (shoppings, cinemas, escolas) e não têm aquele encontro casual que havia. Não se trata de saudosismo, mas de compreender de que forma estas mudanças geram modificações no comportamento dos jovens. E o que falar da Internet, então? Quando eu era criança, a coisa mais próxima de um computador era uma máquina de calcular. Hoje, as crianças parecem nascer com um mouse na mão.
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      Apesar das modificações em curso, não passaremos de uma "mulher-Amélia" para uma "nova-mulher", nem de um "adolescente-antes" para um "adolescente-hoje". Cada vez mais as pessoas se segmentam, se modificam, se agrupam em grupos, subgrupos. Não há mais uma única mulher moderna. Há a mulher moderna que quer ter filhos, e a que não vai tê-los. A que gostaria de ter experiência internacional e a que não quer nem mudar de bairro. E assim somos todos nós, seres humanos. Difíceis de compreender, complexos e dinâmicos. E mutantes em muitas coisas. É preciso, pois que as empresas tenham máxima atenção a estes novos públicos.
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      - Para fazer o download da interessante pesquisa Unicef, basta clicar aqui
      - Dica de leitura: o "Dicionário do Futuro", não por acaso escrito por uma mulher, Faith Popcorn, autora do famoso "Relatório Popcorn"
      - Outra dica de leitura é Emotional Branding, de Marc Gobé
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