Peg & pag

Por Flavio Paiva

Há algumas décadas, instituiu-se a prática de estabelecimentos que, na ocasião, eram denominados Peg&Pag. Basicamente, tratava-se (e se trata ainda, pois há muitos estabelecimentos com este perfil, só não mais denominados de Peg&Pag) em o cliente escolher o item, pegar, pagar e sair da loja (não tão voltada para o consumo, em geral).

Independentemente de novos formatos que tenham surgido, releituras/atualizações, a ideia permanece a mesma. Se o cliente vai consumir o item dentro da loja (há inúmeras lojas que se prepararam para que ele também consuma em suas instalações), este funcionamento está alicerçado em algumas questões.

O que quero citar nesta coluna é o fato de que houve uma aceleração na vida das pessoas. Então, se antes optariam por sentar e consumir, milhares (milhões, na verdade) de pessoas consomem o item em seus trabalhos ou casas, ou até a caminho destes.

O modelo é bom? É ruim? Há maneiras de analisarmos sob diferentes pontos de vista. Entendo que este modelo é mais do que tudo, adaptativo/darwiniano. Criou uma maneira (há décadas, como eu disse) diferente de consumo, em que o empreendedor investe menos em atendentes (mas não em atendimento, que deve ser rápido, fácil e conveniente) e o consumidor leva o item para sua casa ou trabalho.

Filmes (em especial norte-americanos) mostram com frequência o trabalhador a caminho de seu escritório passando em uma cafeteria e adquirindo um café devidamente isolado termicamente e outros itens (como donuts, etc.). O seu objetivo é o local de trabalho. E por que isto ocorre? Por que começou? Pela mais pura falta de tempo. O famoso sinal dos tempos. Claro que a partir da implantação deste sistema, começou a ser trabalhado o estilo: embalagens de café diferenciadas, embalagens de donuts (e similares) idem, de tal forma que, além dos itens em si, o cidadão consuma comodidade, design e qualidade nas embalagens. Uma bela sacada, sem dúvida.

Qual o futuro deste formato? Ainda é difícil dizer. Porque vivemos em tempos líquidos de Zygmunt Bauman, acelerados pelo uso intenso da tecnologia. E, é claro, o sempre imponderável ser humano. De um modo geral, seres humanos têm comportamentos previsíveis, esperados. Mas há rupturas repentinas em outra direção que não a esperada porque, felizmente, ainda temos áreas e pensamentos que - apesar de estarem sendo cada vez mais mapeados pela ciência - são áreas de sombra para pesquisadores e para o mercado, afinal.

Consagrada, a forma Peg&Pag (ou que outra denominação possamos dar a este funcionamento) deverá existir por muitas décadas ainda. Poderão mudar alguns elementos, acrescentadas inovações tecnológicas, mas a essência permanece a mesma. Porque apesar de toda a P&D, todo o estudo de profissionais de marketing, neurocientistas, pesquisadores de toda ordem, foi encontrado um formato e funcionamento que se encaixa ao que querem consumidores e empreendedores. Limpo, direto e - certamente - vantajoso para ambos.

Esperemos que surja uma nova adaptação ao que Charles Chaplin chamaria de Tempos Modernos. O que vem por aí? Aguardemos, pesquisemos e observemos.

 

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