Por que é tão difícil respeitar as mulheres?

Por Cris De Luca

Desde o dia em que foram publicadas as imagens da câmera de segurança do edifício no qual moravam Tatiane Spitzner e o marido, as cenas dela tentando escapar dele a qualquer custo não saem da minha cabeça. E olha que teve bastante assunto durante essa última semana, inclusive alguns me fazendo lembrar ainda mais dela. Não consegui terminar de ver a sequência de toda aquela violência recebida por ela nenhuma vez. E o que mais dói é que ninguém fez nada. Homens, me digam, por que é tão difícil respeitar as mulheres? Qual é o grande poder que vocês acham que têm para assediar, bater, abusar e por aí vai? Ou tudo isso acontece por se sentirem sem poder nenhum e precisam mostrar que são 'machos'?

O caso da Tatiane teve e está tendo uma grande repercussão, mas quantas delas passam por isso todos os dias? Quantas de nós passamos por pequenas e grandes violências masculinas diárias? Cada vez que se abre um portal de notícia tem um, dois, três novos casos de feminicídio na capa, só na capa. Agora foi uma mulher grávida em Santa Catarina que foi encontrada morta dentro do carro do marido na garagem de casa. E tem gente que diz que é um grande mimimi tudo isso. Olha pro teu lado agora e pergunta para a primeira mulher que estiver aí, como ela se sente andando sozinha na rua? E não precisa ser à noite, não. Pare e pergunte para tua mãe, tua irmã ou uma prima se alguma vez elas sofreram assédio no ambiente de trabalho ou se conseguiram ir a um bar sozinha sem um cara abordá-las.

Comecem a escutar e a observar mais. Comecem a respeitar as mulheres que se relacionam diretamente com vocês. Comecem a pensar na forma em que vocês abordam uma mulher na balada. Comecem a reparar em tudo que na vida de vocês também é influenciado pelo machismo. Comecem a dar nos dedos dos amiguinhos que fazem 'brincadeirinhas' absurdas com mulheres quando estão com vocês. Comecem a denunciar esses mesmos homens que ficam compartilhando nudes de gurias com as quais eles se relacionam pelo grupo de  Whatsapp. Comecem a se colocar à disposição das amigas para elas pedirem socorro quando estiverem num relacionamento abusivo. E, principalmente, comecem a não julgar as mulheres pela roupa, pela maquiagem ou pelo comportamento.

Não achem que porque tu conheces alguém profissionalmente e este ser aceitou ir tomar um vinho num final de dia, que ela está a fim de ficar contigo, principalmente, se tu és casado. Algumas vezes, a situação é tão constrangedora que a gente não sabe o que dizer e nem como agir. Isso não te dá o direito de depois dito um sonoro não, continuar falando merda. Se não está conseguindo entender o que está acontecendo, pergunte, ou tenha o mínimo de noção de comunicação não-verbal. Outra coisa: quando estão tentando conhecer alguém, quando não se encontraram nenhuma vez ainda, não as convidem para ir na casa de vocês. Segura a ansiedade um pouco e vê o que faz mais sentido para elas e como se sentem mais confortáveis. Não forcem a barra. Todas temos medo do que possa acontecer com a gente por aí. Todas temos medo de virar estatística. Todas temos medo de sermos violentadas e nunca mais voltarmos para casa. Ou voltarmos, mas nunca mais sermos as mesmas. Parem e pensem como isso é triste e, porque não dizer, revoltante. 

Parece um desabafo?

Sim, é.

E garanto que não é só meu.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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