Sempre deixada por último

Por Cris De Luca

Em mais de 15 anos de mercado, já vi uma situação inúmeras vezes: existe uma marca ou um produto a ser lançado no mercado e o pessoal só se preocupa em pensar a comunicação disso pouco tempo antes de colocar o bloco na rua. Tipo: está aqui, agora se virem! Isso sempre foi algo que me incomodou muito e, por mais que eu falasse para os clientes que era importante o planejamento da comunicação fazer parte de todo o processo, poucas vezes me ouviram.

E parece que agora com as tecnologias e uma comunicação mais digital, as coisas pioraram. "Não, é só colocar no ar as redes sociais e ir fazendo conteúdo". "Pra que fazer ação com imprensa e influenciadores, o negócio é fazer ads, já resolve". Aí a comunicação não dá resultado, não atrai o público desejado por não ter sido bem pensada e planejada e o povo tende a culpabilizar quem está lá na ponta na operação.

Lembro que quando pensei em fazer Comunicação na vida, na época o alvo ainda era Publicidade, gostava da ideia de ter um processo que incluía pesquisa e planejamento para então partir para criação de conteúdo fosse ele visual ou textual. Mesmo ao fazer Jornalismo, acaba gostando mais das disciplinas e dos trabalhos que envolviam um pouco mais de tempo para serem desenvolvidos para ter um "penso" melhor e mais aprofundado. Acho que por isso que nunca consegui me enxergar fazendo hard news.

Talvez seja por isso que eu resolvi fazer outra graduação e entender melhor as ferramentas e metodologias que eu poderia ter nas Relações Públicas para enxergar e pensar o todo. Acho importante bater nessa tecla sempre que possível. A comunicação deve ser uma peça fundamental e estratégica de um negócio. Ela não é apenas um logo bonito, não é apenas campanha publicitária, não é somente redes sociais e ads, não é apenas fazer um "textinho" e disparar para a imprensa a revelia, não é apenas fazer um evento ou uma press trip para influenciadores. Sim, isso tudo pode integrar a política de comunicação de uma organização, mas não é só isso.

É a comunicação que vai fazer com que o propósito e o discurso da marca possam chegar aos seus públicos de interesse. E não estamos falando só de público consumidor, estamos falando de funcionários e seus familiares, de acionistas e investidores, da comunidade que cerca o negócio, de quem compra e de quem também não compra. Não é só sair fazendo um card aqui, outro ali. Pode ser que funcione por algum tempo fazer comunicação assim? Pode até ser que sim. Mas para a construção de uma marca e a conquista da confiança nela, o trabalho que tem e deve ser feito é bem mais profundo e estrutural. Não deixem para pensar a comunicação por último. É mais do que hora dela receber a devida atenção e respeito.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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