Símiles estelares

1.Icebergues, imensas metáforas parcialmente submersas no raciocínio, săo arrastados pelas correntes do pensamento para quaisquer assuntos do momento. Para os analistas políticos, para a …

























1.
Icebergues, imensas metáforas parcialmente submersas no raciocínio, s?o arrastados pelas correntes do pensamento para quaisquer assuntos do momento. Para os analistas políticos, para a opini?o pública e quem está tentando calcular a proporç?o do icebergue da corrupç?o por sua extremidade visível, eis que algumas ondulaç?es acontecem, o icebergue balança, se eleva acima das especulaç?es, e aí, antes que se possa estimar seu monumental volume oculto, um outro dado sobressai e tem que ser levado em conta nas contas: para espanto de todos e infelicidade geral da naç?o, a ponta do iceberg tem cinco pontas!


2.
Na aurora do homem, a intervalos regulares, se instalava o pavor na mente dos primitivos: eclipses solares e lunares assombravam dias e noites e por alguns minutos o mundo acabava. A incompreendida escurid?o momentânea a todos aterrorizava e assim se passaram horripilantes milênios. Até que a lucidez humana iluminasse os céus para sempre. Mas, de vez em quando, algum fenômeno inesperado ocorre e ameaças atávicas de antigas eras avultam no imaginário popular, o horror primevo retorna. Como agora, no inimaginável eclipse de uma estrela.


3.
Toda vez que um efêmero rastro de luz corta o ar da noite, supersticiosos se apressam em expressar desejos idealizados e irrealizáveis. É o poder que atribuem às estrelas cadentes, que cadentes s?o mas n?o s?o estrelas. Nas mesmas ocasi?es, astrônomos e suas mentes calculistas aferem informaç?es e conferem instrumentos, tentam registrar hora e local de queda de asteróides e meteoritos. Porém, nem os leigos, perplexos, sabem o que pedir, nem os cientistas, sem nexo, sabem o que inferir, diante da inédita e assombrosa vis?o de uma estrela decadente.

- O depoente jura dizer a verdade, nada mais que a verdade?
- So posso jurar que n?o vou jurar.
- E juras, o senhor faz?
- Por amor sim, desde que n?o por amor à verdade.
- Sendo assim, nós juramos que vamos fazer de conta que ouvimos seu juramento. Basta dizer a verdade.
- Qual? A verdade verdadeira ou a verdade cristalina?
- Qual a diferença?
- Para mim ou para vocês?
- Para o senhor, claro.
- A verdade verdadeira n?o é cristalina, e vice-versa.
- Esclareça.
- A verdade verdadeira é veraz e veríssima porque temsubstância. A verdade cristalina é cristalina porque n?o é substancial.
- Ent?o nos diga qual a substância da verdade verdadeira.
- É recheada de crença.
- Crença em quê?, nos informe.
- Em quê, n?o. De quem.
- E de quem?
- De quem vai atrás da verdade que é dita.
- Quem s?o esses?
- Gente como a gente.
- Ent?o você jura que atrás das acusaç?es est?o as verdades que todos querem saber?
- Isso n?o posso jurar.
- Mas o senhor n?o está dizendo coisa com coisa.
- Ninguém aqui está.
- Para encerrar, o senhor assume tudo o que deixou de dizer agora?
- Se os senhores assumirem tudo que n?o querem que venha à tona.
- Isso faz sentido para o senhor?
- Pelo que me foi dado a entender, sim.
- Ent?o estamos entendidos. A sess?o está encerrada.
- Obrigado. Eu estava com a verdade entalada.






Na lamentável situaç?o política brasileira, n?o se pode ignorar os estados a que chegamos: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranh?o, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, S?o Paulo, Sergipe e Tocantins.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

Comentários