Esclarecimentos obscuros

Por um lado, a veemência năo faz parte do argumento. Por outro, a ignorância faz. De um lado, o tirocínio com idéias; de outro, …






























Por um lado, a veemência n?o faz parte do argumento. Por outro, a ignorância faz. De um lado, o tirocínio com idéias; de outro, o morticínio delas. Lado a lado, as figuras de linguagem e a linguagem das figuraças. E ladeando tudo, informaç?es desenformadas. Ou desinformaç?es enfurnadas, sei lá. Afira o que fere o ouvido, confira o que difere do entreouvido, afora o que interfere no duvido. S?o minhas figuras de estrilo.


· Hipérbole n?o é uma parábola descomunal.
· Ilaç?o n?o é exclusividade entre associados.
· Cacófatos n?o s?o estilhaços factuais.
· Metonímia n?o é uma ignomínia invertida.
· Paranomásia n?o é a amante do Padre Quevedo.
· Alegoria n?o é irritaç?o cutânea simbólica.
· Catacrese n?o é procurar crise na crase.
· Sinédoque n?o é um cinema num cais.
· Onomatopéia n?o é a prosopopéia da centopéia.
· Sinestesia n?o é a dormência do pensamento.
· Antítese n?o é o oposto da vida acadêmica.
· Perífrase n?o é um atalho entre dois sentidos.
· Gradaç?o n?o é pôr barras de ferro na ênfase.
· Disfemismo n?o é o avesso do machismo.
· Apóstrofe n?o é um poeta na Santa Ceia.
· Elipse n?o é tapar o sol com um clip.
· Assíndeto n?o assina, n?o assinala, n?o sinaliza.
· Hipérbato n?o é estalar a língua no céu da boca.
· Anacoluto n?o é a incompreens?o da morte.
· Anáfora n?o é uma moringa grega.
· Anadiplose n?o é lipoaspiraç?o no texto.
· Diácope n?o é um infarto do diácono.
· Epístrofe n?o é uma missiva rimada.
· Assonância n?o é afonia em vale de eco.
· Aliteraç?o n?o é alteraç?o entre literatos.
· Silepse n?o é a sinopse de uma sinapse.
· Raciocinar n?o é racionar um pouco além
· Tergiversar n?o é regurgitar um poema.
Etc.






Poeminha
passo a passo

Modelos
passeiam
pisam
posam
pousam


Carreira
de alguns
metros


Do anonimato
ao estrelato

Ida e volta


Passam







Sérgio Mercúrio, parafraseando Drummond, tem duas m?os e todoentretenimento do mundo: é titiritero. E é espetacular. Dos bastidores(cria os roteiros e os próprios bonecos) ao palco (atua com títeres e como ator) até à platéia (em shows de improviso), Sérgio Mercúrio é ex: exímio na manipulaç?o dos bonecos, excepcional nos textos, excelente comocoadjuvante de seus personagens, extraordinário no timing e no timbredas vozes. Ora Sérgio manipula as criaturas, ora as criaturas manipulam Mercúrio, às vezes todos manipulam os espectadores e até quem assiste tenta manipular algumas cenas. Humorista, filósofo e poeta, Sérgio Mercúrio faz rir com idéias, pensar com graça e intrigar com lirismo. Seria um argentino típico se n?o fosse atípico no domínio do português, entre tantos domínios cênicos. Como artista, Sérgio é imperdível, mas, eu sei, você o perdeu e às suas últimas apresentaç?es na Usina do Gasômetro. Como titiritero, Mercúrio também está perdido: desde 1992 percorre a América Latina e n?o sabe mais se está indo ou vindo. Partindo ou chegando, por onde passa segue admirável. Para saber mais de um projeto que merecia mais atenç?o do público, acesse www.utopos.org/banfield.htm .E aguarde o inevitável: o bem-vindo retorno dele.
OUTRA PERDA - Paulo Acosta, 56 anos de apego à vida, nos deixou semana passada. Ainda n?o sei o que pensar, só o que sentir. Que se pode dizer, agora que fica o dito pelo n?o dito? Elogios a falecidos soam sem destino - o destinatário deixou de ser o ouvinte mais interessado. Acosta, jornalista sério, frasista nato, ser humano humanizado o tempo todo. Todo o tempo otimista e esperançoso, uma raridade afetada por rara fatalidade. Para ele, o tempo parou. Para quem o conheceu, segue ao encontro das lembranças.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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