Pênis de borracha, vagina de plástico

Juro que eu ia ser sério, hoje, mas me deu um cansaço. Só me animei um pouco ao ler sobre uma pendenga sueca. Pendenga? …

Juro que eu ia ser sério, hoje, mas me deu um cansaço. Só me animei um pouco ao ler sobre uma pendenga sueca. Pendenga? Isso parece coisa de gentinha como nós, tipo terceiro mundo. Digamos então os transcendentais problemas de igualdade que os suecos enfrentam.


A estatal Apoteket, que detém o monopólio das farmácias, começou a vender acessórios eróticos. Foi um sucesso: vendas semanais de mais de mil vibradores e pênis de borracha. Aí os homens chiaram. Eu, como bom brasileiro - quer dizer, que só não pensa em safadeza quando está praticando a dita cuja -, achei que os suecos iam arregaçar as mangas, ou melhor, baixar as calças e fazer as mulheres levarem as farmácias à falência. Mas não. Chiaram porque a seleção dos brinquedinhos privilegia as mulheres.


É isso mesmo. Os homens levaram o caso ao Ombudsman de Oportunidades Iguais - autoridade responsável por questões de discriminação na Suécia. Fiquei impressionado. Nós temos Ministério da Pesca, com Secretarias da Sardinha, do Lambari, do Bagrinho e, se bobear, até da Pequena Sereia e do Signo de Aquário, mas nunca pensamos numa de Oportunidades Iguais onde a gente poderia ir chatear pedindo, por exemplo, a inclusão de estátuas do Nelson Ned entre os anões da Branca de Neve.


Na queixa dos suecos consta que a seleção de produtos eróticos da Apoteket demonstra "uma visão falsa e distorcida da sexualidade, segundo a qual uma mulher que utiliza um vibrador é considerada liberada, forte e independente, ao passo que um homem que usa uma vagina de plástico inflável é visto como um ser repugnante e pervertido". Os suecos estão certos. As mulheres são o sexo forte, sempre foram, só o Jece Valadão não sabia.


Deu no jornal, edição extra


Federer não medalhou. Defendo o uso de algemas para jornalistas que horrorizam a língua.


Yeda Crusius


O novo jeito de governar da Yeda Crusius se parece muito com certas vanguardas literárias: é vanguarda por ignorância histórica, como dizia o Borges. Sabe como é, o sujeito abole as maiúsculas, abole a pontuação, abole os parágrafos e depois fica muito surpreso quando lhe dizem que a escrita começou assim. No caso da Yeda me parece um pouco mais grave, porque quase sempre também se aboliu o sentido.


Irritando o ponto-e-vírgula


Sérgio Rodrigues, autor dos divertidíssimos contos de O homem que matou o escritor (Objetiva, 2000), falou esses dias no blog Todoprosa sobre a decadência do ponto-e-vírgula. Sérgio ainda o usa, mas só em enumerações. É o meu caso também. Agora, falou em ponto-e-vírgula, me lembro do Mário Quintana e da Fernanda Young. Quintana: "Quando completei quinze anos, meu compenetrado padrinho me escreveu uma carta muito, muito séria: tinha até ponto-e-vírgula! Nunca fiquei tão impressionado na minha vida?". A Fernanda - bem, uma vez tentei ler um livro dela. Agüentei umas vinte páginas, ou menos, mas o uso do ponto-e-vírgula era muito divertido. Acho que era por sorteio.


Hay que ser duro, pero


Gilmar Mendes foi grampeado. Trecho vazado do grampo deixa o ministro muito bem na foto. Sou eu ou é o clima brasileiro? Antes de pensar que grampo sem autorização da Justiça é crime, pensei: a troco de quê a Veja está propagandeando o Gilmar Mendes? Não sou do tipo que vê conspiração até na ida de uma mulher ao banheiro para retocar a maquiagem, mas depois de décadas de maracutaias sinto que meu poder de acreditar em inocência se reduziu à inocência dos amigos. E olhe lá. É muito triste.


Conto de terror


E então o Galvão Bueno começou a narrar o apocalipse.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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