A princesinha da sacanagem

A atriz pornô Sasha Grey, bonita, vinte aninhos, vai protagonizar The girlfriend experience, de Steven Sorderbergh. É uma celebridade porque topa projetos considerados ousados …

A atriz pornô Sasha Grey, bonita, vinte aninhos, vai protagonizar The girlfriend experience, de Steven Sorderbergh. É uma celebridade porque topa projetos considerados ousados até para o gênero. Como é que é? Com minha imaginação indigente não consigo pensar em nada mais ousado que os cachorros e cavalos que estrelaram velhos filmes. Minto. Posso, sim. Como Woody Allen, posso ver a Sasha Grey entrando numa barraca com uns trinta escoteiros babando na gravata.


Policial atuante


Foi o escritor Mário Goulart que me falou do policial Délcio Rasera. Ele foi acusado de montar uma central de grampos telefônicos. Nega, claro, mas aproveitou a notoriedade para se candidatar a vereador em Curitiba com o slogan "Fala, que eu te escuto". Ele apresenta o currículo com singeleza: "Em 28 anos na polícia, não respondi a nenhum processo de corrupção. Só por abuso de autoridade, meter o pé na porta, dar tiro, essas bobagens. Coisa de policial atuante".


Soleirismo x Nadismo


Sérgio Fantini, escritor mineiro que realizou o sonho da rede própria de todo filósofo de soleira, me falou de um movimento chamado nadismo. Os nadistas pegam um cubo branco, vão para um parque e ficam por lá, sem fazer nada por cinqüenta minutos.


Os nadistas não estão com nada, digamos, pra cunhar uma frase. Eu, em meia hora num parque, ficaria com torcicolo se não tivesse uma cervical de coruja, vendo as mulheres bonitas passando. Nós, os filósofos de soleira - ou soleiristas, como ficamos conhecidos depois da defesa de nossas teses, tesinhas e tesões pelas varandas da costa brasileira -, propomos um não fazer nada ativo, se é que me entendem. Pra usar uma palavra muito feia, nós, soleiristas, desfrutamos.


Mas por que cinqüenta minutos? Nós nunca olhamos para o relógio antes de não fazer nada, ou mesmo depois. Se há sol, se não deu nordestão, por que se preocupar? Pra mim a submissão burocrática dos nadistas foi a pá de cal. Não merecem o mínimo respeito.


Sem falarmos nesse negócio de cubo branco. Como diria o Jaguar, um dos poucos gênios do humor nacional, isso parece coisa de viado.


Deu no jornal


oOo Macacos são garçons em bar no Japão. Já vi serviços piores. Mas, evidentemente, associações de proteção aos animais vão chiar e exigir cargos de gerência pra cima. oOo Lei seca. Então o pó tá liberado? oOo Empresa mineira vai lançar sutiãs com GPS, que vai dar as coordenadas de latitude, longitude e altitude em que se encontram os peitos das mulheres dos ciumentos. oOo Na Feira de Segurança de Essen, na Alemanha, foram apresentados anões de jardim com dispositivo anti-roubo.O mundo está cada vez mais perigoso e chato. oOo


Deu na revista


A revista Carta Capital questiona a ética do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Gilmar Mendes. Ele é sócio de instituto de educação que faturou uma grana pública das mais pretas sem licitação e comprou um terreno milionário por um quinto do valor. Ele negou os fatos? Não, apenas falou em "pistolagem jornalística". Eu não digo nada, com medo de pistolagem jurídica.


Mulheres no poder


Eu, como muita gente boa, acreditei que o mundo seria melhor se fosse dirigido pelas mulheres. O problema é que as que chegam ao poder são muito parecidas com os homens, ou até piores, remember Margaret Thatcher. Ou essa mistura de prepotência e insignificância chamada Yeda Crusius.


Acho que Freud explica fácil de onde essa crença surge. Ou mamãe não é uma santa?


Oscar Wilde e uma vírgula


Oscar Wilde passou uma manhã revisando um poema. Tudo o que fez foi cortar uma vírgula. Não satisfeito, gastou a tarde noutra revisão. Botou a vírgula de novo.


Eu conheço uns caras com esse tipo de tara. Aqui em casa há um, por exemplo.


Conto regionalista  


- Lembre-se. Tua liberdade termina onde começa a dos meus bois.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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