Inquietações inquietantes

Me indago um bocado. Raro o instante em que eu – que nem filósofo sou – não filosofe. Interrogações que começam sei lá quando …

Me indago um bocado. Raro o instante em que eu - que nem filósofo sou - não filosofe. Interrogações que começam sei lá quando e acabam sei lá onde. Inquirições recorrentes, que povoam meu já tão questionado cérebro, sem nenhuma taxa de condomínio pro Fraga.
Por que acreditamos no que acreditamos? Por que bancamos os mineiros, a extrair obscuras certezas das nossas escuras profundezas? Por que o dubitável é um latifúndio e o indubitável um lote? Por que nos agarramos a rochedos de isopor? Pergunto-me.
Todo mundo quer ser importante, a maioria precisa ser importante, quase todos se importam com o importante. Mas, no fundo do fundo, qual a importância da importância?
Da significância à insignificância, ou versa-vice, é um passo, às vezes uma peregrinação, nunca um passeio. Significa que ninguém pára de significar ou de buscar significados. Mas a dúvida se impõe, significativamente: qual o significado do significado?
Atribuir valor, reconhecer valor, admitir hierarquia de valores. Valorizar ou desvalorizar pessoas, objetos, bens, idéias - isso tudo vale alguma coisa? Qual o verdadeiro valor do valor?
Merecimento versus desmerecimento. O merecido quase inatingível e o imerecido tão acessível. Fazer por merecer, tendo até que refazer. Se curvar ao meritório, incluindo o genuflexório. Delícias aos merecedores, desprazer aos não-merecedores, o demérito como fronteira. Qual o mérito do mérito?
Beneficiar-se primeiro; depois, bem depois, beneficiar aos outros. Ser sempre mais beneficiário que beneficente. Encher-se de mais e mais beneficiamentos. O benéfico como ponto de partida, meio de vida, meta de chegada, beneficências do hotel ao hospital, beneficiado até à morte. Qual o benefício do benefício?
Levar vantagem, negar vantagem, propor vantagem, discutir vantagem. Temer a desvantagem, nem que não seja tão desvantajosa. No gozo, a rima pobre do vantajoso. No medo, a sombra do avantajado. Qual a vantagem da antagem?
Por que semear o irrespondível, se a farta safra já nos enfarta?
 












A solução temporário para a greve
dos rodoviários é van.
A expectativa pra acordo definitivo é vã.
No meio do direito de fazer ou não fazer greve
tem um apedrejamento. Tem um apedrejamento
no meio do direito de fazer ou não fazer greve.
Na mesa de negociação da greve dos
rodoviários, é evidente: nunca tantos inábeis
resolveram tão pouco em tanto tempo.


 

 







O BRASIL ESTÁ TÃO DESENVOLVIDO
NO SETOR HIDRELÉTRICO QUE AGORA
TEMOS DUAS OPÇÕES DE APAGÃO: 110V E 220V.


 

BUGIGANGAS NO VAREJO

 

Vício é quando a pessoa consome a droga.
Overdose é quando a droga consome a pessoa.

 

"Sangue do meu sangue".
Ou é laço de ternura ou é crime em família.

 

Entre empreendedores e investidores
existem canalhas de todo tipo.
Mas são chamados apenas de capitalistas.

 

Há um curto tempo para semear,
outro brevíssimo para colher.
No entremeio, um tempão para os agrotóxicos.

  

Tá demorando implantar o vale-cultura.
Enquanto isso, prevalece o vale-tudo

 

Teoricamente, todo mundo é capaz de teorizar.
Na prática, é impraticável pra maioria.

 

Extradição, dicionário informal:
importação/exportação de canalhas internacionais.

  

A diferença entre a angústia e um tropicão é
que este último pelo menos leva a gente adiante.    

 













O impagável Nico Nicolaiewsky,
a alegria em pessoa, se foi.
A esbórnia fica órfã.
Os entes queridos
se vão e a vida continua.
Isso é vida?

Aos 77 anos, faleceu
o admirável música Giba Giba.
A Morte merecia uns sopapos.


Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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