Greves

Adescurpe aí, ô Gúgol, mas muita coisa o Fraga já sabia antes de vc espalhar conteúdo induzido, informação equivocada, cultura inútil. Por exemplo, greve. …

Adescurpe aí, ô Gúgol, mas muita coisa o Fraga já sabia antes de vc espalhar conteúdo induzido, informação equivocada, cultura inútil.
Por exemplo, greve. Nem precisa ser etimólogo pra etimologar de ouvido: basta saber das paralisações na Place de Grève, em Paris. Antes do verbete cruzar os braços, a partir do final do sec. XVIII, queria dizer "terreno plano composto de cascalho ou areia à margem do mar ou do rio", típico lugar onde os gravetos faziam happy hour. Isso até a Wiki sabe.
Hoje greve é direito universal. Imagine impor esse conceito revolucionário além do sistema solar. Às vezes, até as sondas espaciais nos confins estelares paralisam as funções, como celulares obedientes ao comando dum sinal grevista.
Mas é na Terra que a coisa pegou. Não há categoria que não recorra a uma paradinha, até baterias de escolas de samba ousam interromper as atividades, e em pleno desfile de carnaval!
Ousadia que transparece nos movimentos grevistas dos serviços essenciais. Greve bancária põe os bancos em xeque; o xis da questão, porém, é outro: juros não fazem greve. Os bombeiros adotam estratégia insuspeita: param exatamente nos períodos que os incendiários param. O notável é que ninguém nota.
Já os carteiros contam com os gênios da informática, que inventaram os emails. É a greve mais bem disfarçada que há. Na Brigada Militar deve haver grevistas: quase não se vê nenhum nas ruas. Já greve generalizada, só os generais fariam. E o funcionalismo público? Ah, o poder de reivindicação de um casaco largado na cadeira o dia inteiro! (Com o cuidado, claro, de não cruzar as mangas dos casacos.)
Contorcionistas fazem a greve mais fácil de todas: apenas cruzam os braços, sem adotar outras contorções durante os espetáculos. Para exigir benefícios, pescadores lançam linhas às águas sem iscas nos anzóis; de longe, parecem pescar.
Nem todas as greves chamam atenção. A dos preguiçosos, infiltrados em todas as profissões, costuma aplicar operação tartaruga em qualquer expediente. Em vez de pararem por dias ou semanas, se afastam das tarefas por breves instantes, só que continuamente. O efeito é o mesmo: baixa produção. Deve haver um poderoso sindicato da lentidão a coordenar bilhões no planeta.
Em Brasília, a mais forte palavra de ordem do país é imbatível: os políticos param segunda, quinta e sexta - 12 dias por mês!
Sou favorável a greves por justas melhorias, inclusive por melhores condições de greve. Nenhuma classe reivindica hematomas.
 













Se a estiagem continuar nas barragens
e represas, o hit do carnaval 2014
deve ser As Águas Vão Faltar.
O problema do transporte público
no Brasil é que a maioria dos itinerários
passa pelo caos administrativo.
A única solução para a situação
da Ucrânia é que a Rússia
vá pra Putin que pariu.

 
LUIS FERNANDO CAMPEONÍSSIMO
Nelson Cavaquinho defendia as flores em vida, que as homenagens aconteçam aqui e agora. Foi o que mereceu Luis Fernando Verissimo
no carnaval 2014, sábado no Porto Seco. Por uma homenagem inesquecível e um desfile impecável, palmas pro seu Luiz Carlos Amorim e Erico Leotti, presidente e vice da Imperadores do Samba e toda sua competente diretoria. palmas pro Silvio Oliveira, inspirado carnavalesco. Palmas pros compositores e intérpretes, palmas pra bateria, palmas pra todos componentes da escola, inclusive a Ala dos Amigos - empolgação que invadiu a passarela e arrebatou as arquibancadas. Para quem não viu ao vivo, o espetáculo do Luis Fernando felicíssimo, a 5m do chão, está inteiro aqui. Enfim, as flores, os confetes e as serpentinas em vida. Clap, clap, clap!
 
A Imperadores do Samba faz a Justa Homenagem
aos Personagens de Luis Fernando Verissimo

Vem meu povo cantar, sou Imperador
O clamor do Mar Vermelho inflama
Pra ver os personagens deste cronista sem igual
Verissimo é o nosso carnaval
Sonhando viu traçado o seu destino
Querubins anunciaram uma viagem
Em nova morada o tempo passou
Sobre as asas de um anjo o menino libriano chegou
Seu berço foi a capital
Dos sonhos da infância para o mundo despertar
Na terra do "Tio Sam" com a família foi morar
Aluno nos Estates se formou
Cenário americano que fascina
Deslumbrante show, jazz encantador
Ao som do sax lindas melodias
Luis Fernando se apaixonou
Aplaude ele aí
Homenagem aceita, aí sim! Olha ele ali
No compasso dos tamborins
Criador e criaturas num desfile multicor
Na cadência da sinfônica mostrando seu valor
Lindaura foi buscar o Analista de Bagé
Pra resolver o causo da Velhinha de Taubaté
Ed Mort viu nas cartas de Dorinha
Que as Cobras quem diria fazem parte da Família
De um simples "patentino", condecorado se faz
Textos publicados em revistas e jornais
Seus traços inspirando decoração
Vermelho e branco também é sua paixão
Sou Fiel Resistência de corpo e alma na passarela
Sambando pra contar a sua história
Rugindo no encontro de culturas
Exaltando um gênio da nossa literatura

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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