Indisponível porque esgotado

Aparentemente, este título remete a algo ruim. Esgotado, nos dias de hoje, normalmente é associado à exaustão. Afinal, andam todos correndo tanto. Mas o …

Aparentemente, este título remete a algo ruim. Esgotado, nos dias de hoje, normalmente é associado à exaustão. Afinal, andam todos correndo tanto. Mas o esgotado a que me refiro no título é sobre livros, que de tão procurados acabam por terminar tanto na rede de livrarias quanto na própria editora. Ou seja, trata-se de algo muito bom. Indisponível porque esgotado.
É o caso da biografia de Clarice Lispector, "Clarice,". Está esgotada tanto nas livrarias quanto no fornecedor (editora Cosac Naify). Pelo que já li da obra, dá para entender o motivo de estar esgotada. Existem biografias somente de dois tipos: as realmente boas e as fracas. Uma biografia bem escrita prende a atenção, tanto pela riqueza da pesquisa realizada quanto pela visão atenta e interessante do biógrafo. Uma boa biografia jamais será apenas um cronológico.
Acredito que todas as vidas são dignas de biografia. Quase impossível uma vida passar em branco. Se não for por nada, que seja pela neurose excessiva da pessoa, não permitindo que nada de mais interessante aconteça em sua vida. Mas é claro que há vidas bem mais interessantes do que outras. Há vidas mais ricas. Com mais acontecimentos interessantes, com a ação ativa de seu protagonista. Às vezes, até por acaso. A pessoa é obrigada a viver tal circunstância, não acontece por sua ação, mas por destino. O fato é que a vida desta pessoa acaba por se tornar um prato cheio para os olhos daqueles que, como eu, têm curiosidade sobre este fenômeno que é a existência.
Porque a vida anda mesmo é por um fio. Na verdade, acabamos por esquecer do quão frágil as nossas vidas são. O fazemos para não enlouquecer. Se ficássemos ininterruptamente dando-nos conta de que podemos morrer no segundo seguinte ao pensamento, as casas de doentes mentais estariam bem mais cheias. Claro, dê-lhe neurose para combater muitas das fragilidades existenciais humanas. Viver não é fácil. A vida não é como uma banana, que a gente descasca e come. A vida é para os fortes.
Mas, para ser forte, às vezes é preciso estar indisponível. Seja porque esgotado de exausto, seja porque a alienação é um dever para a sanidade, muitas vezes. O fato é que, seja como for, uma avó da minha família resumiu muitíssimo bem, quando perguntada pela filha(esta avó já contava com seus 94 anos) sobre se ela não tinha medo de morrer. Ela, do alto da sabedoria que os quase 100 anos de vida lhe emprestavam, disse: "Morrer é fácil, minha filha. Viver é que é difícil."

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