2015 perde mais um dia
Faleceu, na última hora desta noite, o Dia de Ontem. O desenlace, que já era esperado pelas pessoas que só se preocupam com o …
Faleceu, na última hora desta noite, o Dia de Ontem. O desenlace, que já era esperado pelas pessoas que só se preocupam com o Amanhã, ocorreu tranquilamente enquanto um tic-tac chegava ao minuto fatal. Segundo fontes bem informadas, o Dia de Ontem estava mesmo com as horas contadas.
O Dia de Ontem deixa um órfão, o Dia de Hoje. E saudosas lembranças entre todos aqueles que o conheceram melhor. Para alguns, o Dia de Ontem foi mais que a parte de uma semana ou o breve trecho de um mês: foi uma data cheia de vida, onde os fatos aconteceram plenamente e o cotidiano evoluiu de forma natural. Já para outros, parece que não foi tão bom assim: para esses, o Dia de Ontem acumulou amarguras, momentos lamentáveis, instantes de derrota. Mas tanto uns como outros souberam tirar do Dia de Ontem o que ele tinha de melhor: a oportunidade do Presente. Nisso ele foi pródigo, oferecendo tudo de si, embora sabendo do seu desgaste ao correr do Tempo. Só que disso ninguém lembra.
Ontem, como era mais conhecido, viveu exatamente 24 horas e alguns segundos, conforme os cálculos de meteorologistas e de outros interessados nesses períodos curtos de Vida Fugaz. Astrofísicos que testemunharam a passagem efêmera do falecido negaram essas 24 horas: afirmam que foi de 23 horas, 46 minutos e 15 segundos, fora os milésimos anotados por relógios atômicos. O que não altera a saudade que ele deixou em nós. Porque o Dia de Ontem representou bem o seu papel na Época em que estamos. A pressa o tirou de nosso convívio, sem que pudesse nos marcar mais profundamente (como fazem os Anos).
A estas horas, o Dia de Ontem está enterrado no Passado. Mesmo assim nós cumprimos o doloroso dever de participar essa perda inesquecível da querida família do Calendário Gregoriano, que tantos serviços tem prestado à nossa existência. Rezem pelo Dia de Ontem: ele morreu pelo futuro de todos nós.
Antes, a sombra e a água fresca
eram insuficientes pra todo mundo. Agora, os dias
sombrios e a seca atendem a quase todos.
Neste momento ninguém quer estar
na pele da Dilma. Pensando bem,
nem a Dilma queria estar na pele dela.
Calma, pessoal.
Nem tudo está perdido:
o Brasil tá apenas extraviado.
QUADRILHA 2015 / Depois do Carlos Drummond
João dedurava Teresa que dedurava Raimundo
que dedurava Maria que dedurava Joaquim
que dedurava Lili que não dedurava ninguém
João foi dedurar nos Estados Unidos
Teresa dedurou um convento
Raimundo morreu de dedodurismo
Maria ficou para tia de um delator
Joaquim suicidou-se ao ser delatado
e Lili casou com J. Pinto Fernandes
o primeiro a ter delação premiada na história.
Enquanto isso, no recesso dos lares
O DELATOR / Millôr Fernandes / 2001
A coisa mais odiosa inventada para usar o trôpego caráter humano é a delação. Quando vejo, aqui mesmo no Rio, esse anúncios oficiais de grandes empresas, bancos, ônibus etc, gritando DENUNCIE sinto vergonha por vocês, já que eu, pra sobreviver, resolvi ser sem vergonha (duas palavras, por favor).
?
Ser delator, pelo menos teoricamente, ainda é o máximo da degradação humana. Nos grupos mafiosos - perdoa-se tudo menos trair a omertá - e nos grupos marginais de todo o mundo e de toda a história, desde os assaltantes de estrada do sul da Itália, de Nunzio Romanetti, até entre os cabras de Lampião. Delator não tem perdão.