Adeus, privacidade

Amada Privacidade: foi bom enquanto durou mas não dá mais. Acabou. Lembra do nosso começo inesquecível? Nove meses no ventre materno, aquele escurinho, só …

Amada Privacidade: foi bom enquanto durou mas não dá mais. Acabou.
Lembra do nosso começo inesquecível? Nove meses no ventre materno, aquele escurinho, só eu e você. Bom, nem lá fomos só nós dois. Estetoscópios, ultrassons, apalpadelas. Foram muitos querendo nos acompanhar.
Depois aquele sururu total: a saída, luzes fortes, vários vultos ao redor. Já não era só eu e você. Era eu e você e o berçário todo! Ah, Privacidade, nem na incubadora ficávamos a sós.
E fomos para casa, Privacidade. Até que melhorou: um quarto privado pra você e eu, mais ninguém. Pelo menos era o que diziam. Porém, bastava qualquer ruído que fizéssemos e mãe ou pai, ou ambos, vinham se meter no nosso canto.
Logo a família cresceu e a população tomou conta do quarto. Eu e você não tínhamos mais intimidade nem debaixo dos lençóis, que dirá naquele banheiro que eu e você pensávamos ser um lugar sagrado.
E o pior, Privacidade: a densidade demográfica nunca mais nos deixou isolados. Que horrível a cidade lá fora. Na escola, centenas de olhares o tempo todo! Bares apinhados, cinemas lotados, parques cheios. E todo mundo prestando a maior atenção em todo mundo. Eu e você já não podíamos estar um com o outro, minha preciosa Privacidade.
Vieram as tecnologias, instalou-se a vigilância, eu e você sem um minuto quietos, nunca mais um esconderijo. Quando as câmeras nos descobriram, Privacidade, pensamos que seria apenas por segurança. Tsk, tsk, tsk. Os governos nos vigiam por um lado, o comércio por outro, o que um dia foi paranoia hoje é realidade.
Apesar de tudo, Privacidade, ainda fomos felizes, com algum livro, em algum lugar ermo.
Mas aí, já estávamos todos conectados. Eu já não tinha tempo pro convívio privado, você parecia me evitar em público. Aliás, Privacidade, você nem encabula mais no meio da multidão!
Sinto muito, Privacidade, é o fim do nosso longo relacionamento: já há gente demais entre nós. Vou sentir saudades. Tentarei sobreviver com você só na memória. Não vai ser fácil, o mundo é um moinho com as lembranças. Outro dia soube que você adora ser filmada.
Agora só falta você, Privacidade querida, aparecer na capa da Playboy!



Antes, o sinal amarelo queria alertar:

Espere, vai mudar pro vermelho.

Hoje, o sinal amarelo parece incentivar:

Acelere, antes que fique vermelho!




Como diria uma caixa-preta pra outra:

Não me importo de guardar segredos.

O que me dói são as últimas palavras.




Em debate, a maioridade penal.

Já a imaturidade social  dos idosos,

essa ninguém quer discutir.





FRAGA E O ABUSO DOMÉSTICO


FRAGA-abuso


Tá difícil manter o ajuste fiscal:

importar a máquina de fazer furos

em cintos afeta a balança comercial.




Como é que foi a minha Páscoa?

Melhor que a de Cristo.




Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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