Filosofar só é possível se não for a sério

(Prefácio para o livro do multitalentoso amigo Orlando Pedroso, Filosofias Baratas me São as Mais Caras) Debruçado num peitoril imaginário, Orlando percorre o panorama …

(Prefácio para o livro do multitalentoso amigo Orlando Pedroso, Filosofias Baratas me São as Mais Caras)
Debruçado num peitoril imaginário, Orlando percorre o panorama visto da fronte. Mira sua luneta de grafite na direção da multidão invisível. São seres que transitam sem serem notados, porém Orlando os torna notáveis. Focados um a um, agrupados às dezenas, cruzam a linha de perspicácia do artista e ali estacam, apanhados em flagrantes tragicômicos. É assim, capturados em cruciais momentos de inexistência física, que ganham corpo e voz. E é encorpados e empostados que filosofam a baixo custo. Mal suspeitam do destino que Orlando lhes traçou: inquilinos de um condomínio sentimental, onde o cotidiano sucede em agruras e amarguras, dores e humores, lirismo e ostracismo, estribilhos e trocadilhos. Poderia ser infernal - se o síndico que brande o lápis não fosse brando com a condição inumana. Daí o mix harmonioso entre misérias e pilhérias. Atento aos tipos enervados que observa, Orlando os retrata como quem repovoa antigo cortiço desabitado: pincela expressões e pigmenta emoções, são criaturas que não são caricaturas. O resultado é uma galeria de perfis fugazes como um flash, grafados em ângulos inesperados e triângulos não superados. Nem por isso vibram pouco ou vivem menos. Trocentos críveis e bem esboçados personagens, delineados do passional ao poético, do picante ao patético, e que vão além: até à não mera semelhança conosco. (Alguns evocam criações do Dalton Trevisan, outros do Marcos Rey, uns do João Antônio, só pra ficar em 3 brilhantes.) Filósofo também quando sem caneta e papel, o admirável Orlando faz aqui antologia dos ditos populares, do duplo sentido, do nonsense. Sutil homenagem a partes da linguagem que arrebatam e engraçam cenas da humanidade em meios a devaneios amorosos e delírios belicosos. Orlando, dotado com a volúpia de desenhar, é um dos mais afiados frasistas do Brasil, este concorrido celeiro de fazedores de frases. Só ele, talentoso em tantas ferramentas, poderia registrar instantâneos que duram uma eternidade.
(Detalhes do baita livro aqui)
 



Quase todos podem escapar

deste ou daquele fator de risco.

Ninguém escapa do fator previdenciário.





Alguém sempre ganha com os protestos.

Pergunte a qualquer funileiro

o que ele acha dos panelaços.





Saudade do tempo em que poluição

era apenas uma rima ao redor:

serragem, ferrugem, fuligem.





 

ENQUANTO ISSO, NOS ESTUDOS SOCIAIS


 
FRAGA-SUBORNO
 
fraga-chateacao

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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