A cultura política do descrédito e ceticismo

No comportamento da maior parte do eleitorado gaúcho verifica-se um alto nível de desinformação, de apatia, ceticismo e descrédito em relação à política. Os …

No comportamento da maior parte do eleitorado gaúcho verifica-se um alto nível de desinformação, de apatia, ceticismo e descrédito em relação à política. Os eleitores não acreditam nos partidos e na política e votam na pessoa, votam "em um candidato", com base nas imagens e nas percepções que dispõem deste. Para os eleitores, que não acreditam e não se identificam com o "mundo político", o personalismo político é muito mais importante do que a identificação partidária.
Em estudos realizados pelo IPO verifica-se que o comportamento da maioria dos eleitores gaúchos caracteriza-se:


  • pelo seu ceticismo e descrença política, tendo em vista que os eleitores não confiam e não acreditam nos políticos (média de 80% dos gaúchos acreditam que os partidos e políticos atuam em causa própria);

  • pelo distanciamento dos eleitores frente ao "mundo da política". Como a população mantém um sentimento de "ineficácia política" e vive num clima de "indiferença informada", não participa da política, mantendo-se em uma posição de desinteresse, num contexto em que a política é vista como algo distante e negativo;

  • pelo voto personalista, dado a pessoa do candidato em função de sua imagem e seus atributos simbólicos. Como os eleitores não acreditam na "política" e nos partidos, mantêm-se afastados do processo político, respondendo aos apelos das campanhas personalistas.


A desinformação da maior parte do eleitorado não é um reflexo de sua "suposta irracionalidade", mas antes, o resultado de uma cultura política cética e personalista, um modus operandi de relacionamento com a política. A descrença nos partidos faz parte de um processo de construção da cultura política do país, de uma democracia que não estimula a participação política.
O comportamento, baseado na percepção pessoal, é reflexo da forma de como a política está estruturada. Os eleitores comportam-se desta maneira não necessariamente por opção política, mas utilizam-se das ferramentas que estão disponíveis. Quando realizam suas escolhas, baseados em princípios de juízo moral, apenas terminam por reproduzir as relações de reciprocidade que são estabelecidas historicamente na sociedade brasileira. O comportamento dos eleitores apenas exterioriza a percepção que os mesmos detêm do "mundo político".
O eleitor faz a opção que acha mais correta. Movido por um sentimento de esperança, escolhe o "melhor candidato", mesmo que o voto seja orientado pela imagem dos candidatos. Neste sentido, a partir da imagem estabelecida pelo candidato, a vinculação do eleitor com a figura do mesmo pode ser considerada um ato coerente a sua cultura cética e descrente. O desafio dos candidatos é estabelecer laços de confiança com o eleitor. E o desafio do sistema político brasileiro é fomentar a participação política e a restabelecer a credibilidade dos partidos políticos.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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