Jornalista: mercado exige mudanças

A maioria das pessoas talvez ainda tenha o jornalista como aquele profissional um tanto romântico, pois poucos convivem a realidade concreta desta atividade. O …

A maioria das pessoas talvez ainda tenha o jornalista como aquele profissional um tanto romântico, pois poucos convivem a realidade concreta desta atividade. O cenário de vivência, atuação e busca de conteúdo mudou muito nas últimas décadas, como o próprio jornalismo, ou a mater comunicação. O romantismo ficou perdido na poeira do passado e o factual se torna cada vez mais imperativo: é preciso ser multifacetado, ter uma formação multidisciplinar sob o risco de tornar-se um verdadeiro fracasso.
Comentei em uma coluna anterior sobre o surgimento (ou seria consolidação?) do novo profissional de jornalismo/comunicação. Vamos chamá-lo de comunicador, para termos ideia da abrangência do fato. As pessoas ainda estão acostumadas a se referir ao profissional como "jornalista" e não "comunicador" - por favor, esqueçam um palavrão que alguém usou um dia: comunicólogo. Comunicólogo é a pqp. "Comunicador", vá lá? ainda vou me acostumar.
Pois bem, o mercado exige mudanças e não apenas porque o patrão quer pagar menos, usar mais, ter alguém que faça (quase) tudo. Mesmo sendo um microempresário, dono de uma pequena empresa de assessoria de comunicação ou de um site/blog, uma radioweb, ele precisa ter conhecimento de gestão e tentar administrar sua empresa com foco na rentabilidade, no lucro, senão para crescer, pelo menos para poder pagar um pouco melhor seus colaboradores, investir em alguma inovação ou mesmo ter alguma reserva para gastar em um bom jantar com vinho de qualidade ou cerveja artesanal.
Assim, vou continuar batendo naquela tecla: é preciso que as faculdades de comunicação passem por uma reforma estrutural. Não é mais possível separar ou dicotomizar  ensino da comunicação em segmentos como jornalismo, relações públicas, propaganda e publicidade, marketing e gestão empresarial. O comunicador precisa sair da faculdade preparado para enfrentar a selva dos negócios, da carência de vagas, os baixos salários, a exigência de saber de tudo um pouco e até mesmo o desafio de ter que começar com uma empresa própria - porque não?
Fiz contato com uma fonte do MEC, em Brasília, para saber se havia alguma sinalização de mudanças estruturais em algumas faculdades, que precisam se adaptar à nova realidade, entre elas, a de comunicação/jornalismo. Por enquanto, nada. Na Fenaj, o tema ainda está no foco como grande preocupação, da mesma forma que nas faculdades tradicionais. Pode ser que na Pátria Educadora o tema da reestruturação do ensino superior venha a ocupar o lugar de destaque e urgência que merece em alguns anos, com um novo slogan: Pátria Formadora. O mundo está andando rápido demais, o futuro é hoje e o hoje já está passando.
Eu ainda pretendo exercer o jornalismo eventualmente, mas quero aprender coisas novas, mais para conhecimento do que necessidade. A nova geração, no entanto, precisa se atualizar de forma imperiosa, sob pena de ter um ensino deficitário e comprometer  a sua missão de bem informar, de divulgar corretamente, enfim, produzir algo que a população possa consumir sem se sentir enganada.

Autor
Júlio Sortica é jornalista formado pela Ufrgs. Foi repórter do Diário de Notícias, Zero Hora, Folha da Tarde, Jornal do Comércio, Correio do Povo, Revista Consumidor, editor da Plástico Sul, diretor de O Sul e coordenador de Comunicação da Secretaria de Planejamento do Estado do RS. Fez várias coberturas internacionais, editou publicações segmentadas.

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