O eleitor sabe votar!

Há quem diga que o eleitor não sabe votar! Mas quando as equipes do IPO – Instituto Pesquisas de Opinião “batem nas portas dos …

Há quem diga que o eleitor não sabe votar! Mas quando as equipes do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião "batem nas portas dos eleitores" e questionam o motivo da intenção de voto, existe sempre uma razão que direciona o voto dos eleitores, seja ela ideológica, partidária ou pessoal. Em torno de 80% das escolhas eleitorais dos gaúchos são motivada por avaliações e percepções intuitivas e emocionais em torno das imagens constituídas pelos candidatos, o voto personalista ocorre com a conivência ou com o apoio dos partidos políticos.
Os eleitores foram e continuam sendo, "moral e civicamente", imbuídos do dever de participar das eleições unicamente por intermédio do ato de votar. Historicamente, os eleitores brasileiros são desprovidos de sofisticação política, neste cenário os critérios políticos não fazem parte do processo decisório da maioria do eleitorado (ideologia, preferência partidária, interesse de classe, proposição..).
Vivendo em um permanente paradoxo de esperança e frustração, que retroalimenta o descrédito e o ceticismo com a política, os eleitores agem em correspondência com a sua percepção de mundo político, comportam-se em consonância com a cultura política do personalismo e destinam o seu voto à pessoa do candidato, movidos de "muita razão e bom senso". Procuram sempre escolher o "melhor candidato" ou o "menos pior".
Neste contexto não há "incoerência" no comportamento eleitoral. Os eleitores apenas respondem aos estímulos das campanhas eleitorais, votam coerentemente, depositando esperança em um candidato e de acordo com a percepção negativa que possuem das instituições políticas democráticas do país.
Tendo como foco de analise os critérios de decisão eleitoral de um sistema democrático, a "incoerência" reside na atuação e na prática dos partidos políticos que primam pelo caráter personalista e pela manutenção de práticas autoritárias de favorecimento pessoal, que estão muito aquém do politicamente desejável, do ponto de vista democrático.
Para que o círculo vicioso seja quebrado (voto personalista X campanhas personalistas), precisa haver uma ruptura histórica que possibilite a efetivação de mecanismos democráticos que propiciem mudanças estruturais, tanto no que refere-se ao comportamento dos eleitores, quanto a atuação dos partidos e de suas campanhas eleitorais.  Para que, numericamente, prevaleça o eleitor politicamente estruturado, dotado de uma consciência crítica reflexiva, há muito a ser feito, começando por uma reforma política efetiva.
Atualmente, o eleitor sabe votar! Vota em consonância com a cultura política personalista, respondendo a campanhas personalistas. O foco do debate deve avaliar se a cultura política que temos é a cultura política que queremos ter!

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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