A cabeça do gaúcho

A cada dia os gaúchos estão mais temerosos em relação à economia, a política e externam essa preocupação nas pesquisas de opinião realizadas pelo …

A cada dia os gaúchos estão mais temerosos em relação à economia, a política e externam essa preocupação nas pesquisas de opinião realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião, demonstrando seu ceticismo e desconfiança, fomentando uma crise social que questiona a credibilidade e a ética das Instituições brasileiras.
Na "cabeça do gaúcho" há quatro crises instituídas que dificultam a vida cotidiana do país, passando pelo Estado e chegando até as cidades, sendo elas:


  1. a) Crise política, ancorada na operação Lava Jato e que aumenta a desconfiança com os políticos, estabelece a premissa de que a corrupção é um mal endêmico na sociedade e diminui os elos entre representantes e representados;

  2. b) Crise econômica, que se estabelece com a retomada da inflação e afeta diretamente a população com o aumento do custo de vida e das taxas de desemprego. Para a população, a crise econômica se iniciou com o aumento do preço da energia e dos combustíveis em 2015 e foi resultante de desvios da Petrobrás impactando toda a cadeia produtiva;

  3. c) Crise social, que se caracteriza por altos índices de desconfiança nas instituições, ceticismo e descrédito em relação à política. A população não percebe saídas coletivas e tende ao individualismo;

  4. d) Crise (in) segurança, estabelece-se de forma acentuada neste início de 2016 e pode ser entendida como uma exacerbada sensação de insegurança. Tradicionalmente, os testes indicam que a sensação de (in) segurança é maior nos centros das cidades, diminuindo em direção ao bairro, na rua e na casa do indivíduo. Neste momento, a sensação de (in) segurança é similar nos diversos espaços públicos e acompanha os individuais no bojo de seus lares. Esta sensação de (in) segurança aliada aos efeitos das demais crises fomenta uma mudança de paradigma nos anseios da população.


O novo paradigma social:
Até pouco tempo atrás a maior parte da população gaúcha, especialmente, a nova classe C, acreditava que a vida havia melhorado "da porta para dentro" e que os governantes precisavam melhorar as condições da população "da porta para fora", o debate era "fazer o que precisava ser feito" para cuidar das cidades e do Estado.
Com as crises instauradas, este paradigma se altera: o problema "entra para dentro de casa". Com demandas "dentro e fora de casa" e uma percepção de que as crises não devem ser dissipadas em curto prazo, a população começa um novo debate em seu bojo, que apregoa a seguinte premissa "como está não pode ficar".
Esta premissa tenta romper com a lógica do jeitinho brasileiro, apregoando que "o que é certo deve ser certo e o que é errado deve ser errado", não podendo haver "o mais ou menos certo". A população retoma a reflexão sobre a necessidade da moralidade pública, de observar o caráter dos gestores e governantes, resgatando a importância do "fio-de-bigode", a importância da "palavra dada". Diante de um cenário de crises, o gaúcho procura se reposicionar, voltando aos seus valores originais para tentar restabelecer os elos e confiança e amenizar os seus temores.
 

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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