A população vive entre a frustração e a esperança

Num momento ímpar da história brasileira pós redemocratização, o país vive uma macro crise que tem suas bases em um tripé econômico, político e …

Num momento ímpar da história brasileira pós redemocratização, o país vive uma macro crise que tem suas bases em um tripé econômico, político e social e a principal pergunta que fazem ao IPO (Instituto Pesquisas de Opinião) centraliza-se na seguinte lógica: "como está o sentimento da população?"
A análise desta questão embasa-se na cultura política da população brasileira, na ampliação do dúbio sentimento de frustração e esperança em relação a política e aos políticos, que iguala a todos os políticos ao mesmo sentimento depreciativo, à premissa popular de que "todos os políticos são iguais".
No dia-a-dia, funciona da seguinte forma: a maior parte da população se sente frustrada com a política, com as denúncias de corrupção e com a malversação de recursos públicos. A população se sente desapontada com as promessas não cumpridas, com o serviço não realizado, com o enriquecimento ilícito dos agentes públicos que deveriam primar pelo bem comum e até com o descaso de alguns servidores públicos.
Na percepção do eleitor a mais simples das ações do poder público está envolta de uma complexidade de dificuldades. Há uma frase corrente que permeia o senso comum do jeitinho brasileiro que apregoa que, no Brasil, "se cria dificuldade para se vender facilidades".
Esta frustração que sempre foi intrínseca à cultura política da população ampliou-se a indicadores alarmantes, gerando percepções permissivas em relação a política e criando alertas e temores na classe política que observa que 95% dos gaúchos estão insatisfeitos com a política, não confiando nos partidos.
E o eleitor sempre oscilou entre o sentimento de frustração que dividiu a cena com o seu sentimento oposto, a esperança. Neste momento, houve ampliação destes dois sentimentos, com uma tendência pró frustração. Ao mesmo tempo em que 95% da população está insatisfeita com o cenário de crises, 70% dos gaúchos acreditam em dias melhores e tem esperança em destinar o seu voto a um político, à pessoa de um candidato, dando-lhe um voto de confiança e renovando a esperança.
Com a aproximação do processo eleitoral o eleitor descrente e frustrado fará a opção que achar mais correta, movido por um sentimento de esperança e escolherá o "melhor candidato" ou, no conceito da maior parte da população, escolherá o candidato "menos pior".
E assim o ciclo se fortalece de forma mais intensa: o eleitor não confia nos políticos, se sente vitimizado por ser obrigado a escolher um candidato, ampliando seu sentimento de frustração. Como é obrigado a votar e foi educado pelos preceitos da moral e cívica, destina o seu voto na esperança de que está escolhendo a melhor opção.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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