Como torturar Bolsonaro

Sou contra a tortura, mesmo no caso do Jair Bolsonaro e outros hominídeos do tipo. Mas é uma tentação abrir uma exceção, confere? Segundo …

Sou contra a tortura, mesmo no caso do Jair Bolsonaro e outros hominídeos do tipo. Mas é uma tentação abrir uma exceção, confere?
Segundo Bolsonaro, numa frase célebre, o erro da ditadura foi torturar, não matar. A menos que ele estivesse pensando numa pessoa específica, Dilma talvez, isso não faz o menor sentido - há pilhas de provas de que a ditadura torturou e matou. O herói de Bolsonaro, o obscuro Brilhante Ustra, tem anotado em seu prontuário quarenta e cinco mortes sob tortura.
Claro que a frase essa também não faz o menor sentido em termos éticos. A lógica dela é criminosa, ponto. Quer dizer, no mínimo Bolsonaro devia ter sido processado por defesa da violência. Mas não só não aconteceu nada, como ele conseguiu uma série de adeptos com ela, o que me leva a lamentar a hora em que os hominídeos desceram das árvores e deixaram de andar de quatro. Bom, mentalmente ainda andam de quatro, mas essa é outra história.
Sempre se lembra que o inventor da guilhotina acabou guilhotinado. Isso é o que eu chamo de justiça poética. Mas o diabo é que ela é muito rara. Brilhante Ustra, por exemplo, morreu de velhice e ainda escapou da justiça. Sabe-se, por aqui a justiça atua com rigor e presteza com quem ganha de salário mínimo pra baixo. Sobraria então a justiça celeste. Dizem que Deus não joga mas fiscaliza. Mesmo que Deus existisse, eu teria minhas dúvidas sobre a fiscalização. Há legiões de Brilhantes que nem cartão amarelo levaram.
Mas, num exercício de raciocínio macabro, me perguntei: qual seria a melhor forma de torturar Jair Bolsonaro? Minha primeira ideia não foi muito bondosa: Bolsonaro é preso e levado a algum porão, onde é entregue ao doutor Tibiriçá - como se sabe, codinome do Brilhante nos tempos em que chefiava os torturadores e assassinos. Horror, Tibiriçá é claramente gay, acusa Bolsonaro de comunista e faz carinhos suspeitos no pau de arara. Essa cena talvez pudesse acabar com a separação de Bolsonaro de suas bolas.
Não, não. Não tenho o menor prazer em pensar uma truculência dessas. Eu só desejo uma coisa a Jair Bolsonaro: que ele tenha um instante de consciência clara. Sim, uns dois ou três minutos em que ele pudesse ver a si mesmo e compreender a pessoa asquerosa que é.

Autor
Ernani Ssó se define como ?o escritor que veio do frio?: nasceu em Bom Jesus, em 1953. Era agosto, nevava. Passou a infância ouvindo histórias e, aos 11 anos, leu seu primeiro livro sozinho:Robinson Crusoé. Em 1973, por querer ser escritor, entrou para a Faculdade de Jornalismo, que deixou um ano depois.  Em sua estréia, escreveu para O Quadrão (1974) e QI 14,(1975), publicações de humor. Foi várias vezes premiado. Desenvolve projetos literários para adultos e crianças.

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