Em tempos de crise, relacionamento

Um dos maiores (senão o maior) ativo em tempos de crise são os relacionamentos interpessoais. Se sempre foram importantes, agora então eles se tornam …

Um dos maiores (senão o maior) ativo em tempos de crise são os relacionamentos interpessoais. Se sempre foram importantes, agora então eles se tornam absolutamente imprescindíveis. Eles são capazes de fazer a diferença, quer através da indicação para uma oportunidade de trabalho, quer para o fechamento de um negócio, quer para um favorecimento (mesmo que a sua esteja concorrendo com outras propostas iguais e este favorecimento nada tenha de ilícito).
Na escassez, a vitória concentra-se nos detalhes. Em momentos de absoluta concorrência, há um aumento na oferta de produtos e serviços e um encolhimento nos recursos aptos a consumir/contratar estes recursos. E se uma boa parte da crise brasileira advém do medo dos empresários, de sua incerteza no futuro, também é verdade que a conquista de um contrato também vem de outro capital humano: relacionamentos.
Veja que em um mundo que preconizou tanto (porque verdadeiro) a questão técnica, estamos tendo uma elevação da questão humana. Primeiro, no sentimento de medo que, junto com as dificuldades econômico-financeiras porque atravessa o país, serviu de combustível para que o fogo da crise tomasse a proporção que ora tem. Segundo, porque derivado de uma questão humana, o relacionamento está se colocando como um ativo absolutamente necessário neste momento.
Chama ainda a atenção que outra questão que envolve o humano tenha tomado lugar de destaque nos últimos meses, em função de a cultura ter virado secretaria e depois ministério novamente. Disto, derivou um amplo debate sobre o papel e o poder dela em nossa sociedade, como eu nunca havia visto. Há um questionamento do quão necessária a cultura é em nas nossas vidas, como ela deve ser tratada, o que é cultura, qual seu alcance, como deve estar organizada para que chegue ao cidadão, seu objetivo final e transformador. Claro que há por trás disto uma disputa de verbas, subsídios, etc. Mas há uma forte questão humana subjacente ao debate, pela enorme importância que a cultura tem em nossa sociedade, pois ela é também imprescindível. A cultura é naturalmente humana, mas seu consumo mostra-se absolutamente prático, com seu papel reflexivo, progressivo e modificador.
Assim, se refletirmos, em tempos de escassez necessitamos ainda mais do humano, embora os momentos de crise pareçam querer desumanizarmos em certa medida, por sua aspereza. Contraditório e paradoxal, como bem cabe em um ser humano.

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