Esto?rias de violinos

Nem mesmo dedicados estudiosos de Música arriscam uma explicação lógica para a aura que acompanha os violinos, violas e violoncelos fabricados durante o século …

jaNem mesmo dedicados estudiosos de Música arriscam uma explicação lógica para a aura que acompanha os violinos, violas e violoncelos fabricados durante o século 16, na cidade de Cremona, na Itália. Mas todos são unânimes ao reconhecer que os Amati e Stradivari produzem um som insuperável e simplesmente impossível de ser imitado. O grande virtuoso Niccolò Paganini, ao tocar pela primeira vez em seu Stradivarius de 1715, teria exclamado:
"Este é um violino para ser tocado por arcanjos . "

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Antonio Stradivari, o mais celebrado luthier de Cremona, produziu cerca de mil violinos, violas e violoncelos, mas a maioria se perdeu ao longo do tempo. Os que sobreviveram são disputados por colecionadores, dispostos a pagar milhões por um violino fabricado entre 1700 e 1720, o chamado "Período de Ouro". São os preferidos por músicos célebres, como Itzhak Perlman, David Oistrakh, Fritz Kreisler, Yehudi Menuhin, Isaac Stern e Pinchas Zukerman.
Bem antes de Antonio Stradivarius, Cremona já produzia os melhores violinos do mundo. O mais antigo desses instrumentos ainda existente é um Andrea Amati, datado de 1564. Dizem que seu som é comparável aos dos grandes Stradivarius. Por mais de quatro gerações, os Amati produziram violas e violinos; no entanto, seu prestígio entrou em declínio a partir de 1666, quando Antonio Stradivarius começou a fabricar seus violinos. Ele trabalhou até os 93 anos, controlando sua oficina com mão de ferro, sem transmitir seus segredos aos filhos - e que morreram com ele.
Três séculos depois, os Stradivari estão entre os objetos mais caros do mundo - o mais alto preço em leilões foi pago em 2015, pelo Christian Hammer, vendido em Nova York, por US$ 3,54 milhões.
"Um Stradivarius é uma obra de arte, como uma pintura de Rembrandt.
É diferente de qualquer outro violino."
É o que afirma o músico alemão Geraldo Modern, que vive no Brasil desde 1934 e que foi possuidor de um raro Stradivarius de 1709, há muito tempo revendido.

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Alguns destes famosos instrumentos tiveram sua saga contada no livro Stradivarius: Três Séculos de Perfeição, do inglês Toby Faber. Ele descreve como os violinos de Cremona marcaram a vida de grandes intérpretes. Como o caso do violinista italiano Giovanni Battista Viotti. No dia 17 de março de 1782, o público do Concert Spirituel, em Paris, ficou em êxtase ao ouvi-lo tocar seu Stradivarius. Aquele recital marcou uma virada na história da música, quando o violino assume para sempre a vocação de solista. Giovanni Battista Viotti ficou devendo muito de sua fama ao seu Stradivarius, um violino de fundo listrado, conhecido como Pele-de-Tigre. Quando morreu, o instrumento permaneceu na Inglaterra e, recentemente, doado para a Academia Real de Música.
"Este violino é como o Messias, que é sempre sendo
esperado, mas nunca aparece!"
A exclamação, do violinista francês Delphin Alard, ao seu colega italiano Luigi Tarisio, acabou por batizar um dos mais famosos violinos do mundo, o Messias, um Stradivarius de 1716. É mais uma estória pitoresca. Luigi Tarisio era um negociante de instrumentos musicais, no início do século 19, e se gabava de possuir um instrumento assinado pelo mestre de Cremona. Teria sido um presente do conde Cozio de Salabue, que, por sua vez, o havia comprado dos herdeiros de Stradivarius.
Enquanto viveu, Luigi Tarisio não exibiu nem tocou em público seu violino. Daí nasceu a lenda do Messias, do qual o dono só se separa na   morte. Depois de muitos anos de espera, Delphin Alard consegue pôr as mãos no cobiçado Stradivarius. Mas morre pouco depois, sem conseguir tocar o violino em público. Desde o ano de 1939, o Messias repousa em um museu em Oxford, Inglaterra. Raramente tocado, parece novo, com seu verniz intacto.

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"Foram quinze gloriosos minutos."
Assim Yo-Yo Ma, um dos maiores virtuoses atuais, descreve a sensação ao tocar, pela primeira vez, o violoncelo Davidov Stradivarius, que pertencia à música inglesa Jacqueline du Pré. Tem a data de 1712 e está avaliado em US$ 2,5 milhões
Este cello tem uma carreira acidentada - era do conde Wielhorski, de São Petersburgo, que dizia não ter tempo para música. Depois, passou por vários donos, até ser herdado pelo letão Karl Davidov, que, antes dos concertos, deixava que seus alunos o tocassem, para aquecer as cordas.
Em 1964, a madrinha de Jacqueline du Pré, Ismena Holland, comprou o Davidov para a afilhada, que teve uma carreira brilhante e meteórica, antes de ser acometida por uma esclerose múltipla. Quando morreu, aos 42 anos, o Davidov foi posto à venda. Yo-Yo Ma tentou comprá-lo, mas não dispunha da quantia pedida e achou que fosse perdê-lo para sempre. Foi então que um admirador anônimo arrematou o instrumento e o cedeu ao celista, em caráter vitalício.
Ainda hoje, Yo-Yo Ma afirma sentir a presença de Jacqueline du Pré, ao tocar o cello. Coincidência ou não, os boatos dizem que o ?admirador anônimo? teria sido o maestro argentino Daniel Baremboim, ex-marido de Jacqueline.

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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