Mais sentimento de comunidade e menos sentimento de culpa social

Quando um entrevistador do IPO ? Instituto Pesquisas de Opinião "bate em uma porta" tem o objetivo de buscar a opinião ou melhor, ouvir …

Quando um entrevistador do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião "bate em uma porta" tem o objetivo de buscar a opinião ou melhor, ouvir um entrevistado sobre um tema delimitado. Na maior parte das vezes, os entrevistados relatam sua posição ou opinião sobre um tema, como se não tivesse um papel no processo, como se não fosse um agente transformador do social. A leitura do entrevistado é de que o problema é social e como indivíduo acredita que não há possibilidade de cooperação mútua. Essa ação individual obsta o amadurecimento de uma cultura política em prol do bem-comum, sendo que no RS:
- Apenas 12% dos gaúchos participam de alguma entidade, associação ou instituição representativa (incluindo partidos, sindicados?), sendo que quem participa de uma instituição tende a participar de outras.
- Em torno de 60% dos gaúchos não confiam em nenhuma instituição;
Se uma sociedade não possui confiança social em suas Instituições e normas e não participa de suas Instituições e entidades fica refém de um sentimento de culpa social inconsciente que termina por afastar ainda mais a população da retomada das bases da democracia. Este sentimento de culpa social se expressa nas frases tipo:
- Que horror esta situação?
- Onde isso tudo vai parar?
- Como está não pode ficar!
Agora o dilema da não cooperação para o aproveitamento mútuo, da não participação dos indivíduos nas ações de seu bairro, comunidade, escola em prol de um bem comum não significa necessariamente ignorância ou mesmo irracionalidade. A cultura política da não participação é movida por dilemas cotidianos que sustentam a seguinte premissa:
- "Porque participar se não ganho nada com isso?" Ou, de forma mais incisiva: "O que vou ganhar com isso?"
Esse dilema da cultura política da população faz com que os indivíduos se distanciem das Instituições que regem o que a "sociedade é" ou "como a sociedade deve ser". Fazendo "vistas grossas", a sociedade acaba dando um "cheque em branco" para "oportunistas" se apossarem de Instituições representativas ou entidades, tratando as mesmas como algo pessoal.
As pessoas que sofrem do sentimento inconsciente de culpa social pressupõem que a solução está nos políticos e o mecanismo final será a "reforma política", que sem dúvida precisa ser realizada.
Mas o problema maior está na cultura política da sociedade que, inclusive, origina e forma os políticos. O caminho para este dilema é a ampliação do sentimento de comunidade, ampliando a solidariedade e igualdade com os demais membros da comunidade, normas de cooperação, reciprocidade, confiança e atitudes positivas. Estas atitudes positivas propiciaram ampliação da confiança, a confiança no outro, no governo e no funcionamento das instituições e estimula a participação, o empoderamento da população, diminuindo o sentimento social de culpa.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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