O dito e o não dito!

Estudar cotidianamente o comportamento da sociedade exige o conhecimento e o aprimoramento de técnicas com capacidade de compreender o que as "pessoas dizem", dentro …

Estudar cotidianamente o comportamento da sociedade exige o conhecimento e o aprimoramento de técnicas com capacidade de compreender o que as "pessoas dizem", dentro do politicamente correto e o que elas "gostariam de dizer", o que realmente pensam.
A cada estudo os cientistas sociais do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião mesclam técnicas de investigação utilizando a epistemologia como ferramenta cotidiana na tarefa de compreender o que é "dito" e o que "não é dito!"
Pensando em um exemplo de investigação entre "o dito" e o "não dito" no que se refere a um tema polêmico, como maioridade penal, verifica-se que há, no mínimo, três lógicas que fornecem elementos de argumentos para a posição "do dito", da resposta dada pelo entrevistado em uma pesquisa:


  1. a) a influência social = indivíduos que reproduzem o discurso dominante, seja absorvido através da mídia ou de sua rede de relações pessoais ou virtuais.

  2. b) a experiência = indivíduos que passam ou vivenciam ou se relacionam com pessoas que passaram por situações de violência que envolvem menores de idade;

  3. c) posição técnica ou ideológica = indivíduos que possuem conhecimento técnico ou posição ideológica sobre o tema avaliado.


Cada um dos três grupos, em menor ou maior grau, externa primeiramente "o dito", sua posição sobre um tema com base na lógica que sustenta a sua avaliação, o seu politicamente correto. Na sequência do debate, do processo de investigação, verifica-se que na maior parte dos casos há um "não dito", ou seja, o que realmente o indivíduo pensa em relação ao tema e que tem como base as suas crenças, a sua cultura, os seus sentimentos, a sua educação familiar, incluindo a existência ou não de base religiosa.
Neste sentido é preciso que os fatos sejam compreensíveis para quem não os viveu. Na avaliação de uma situação ou na tomada de decisão, cada um vê as coisas através do seu próprio prisma, "pelo seu umbigo" ou pelos seus interesses pessoais. Cada um constrói a realidade pelas paixões, pelos desejos, pelos interesses. Neste caso, o resultado de uma decisão parcial gera uma decisão ou avaliação que não é necessariamente verdadeira! Por este motivo, a posição da opinião pública varia conforme o tempo ou muda conforme discursos convincentes e persuasivos.
Para buscar a estabilidade da opinião pública, entre o dito e o não dito é necessário compreender o papel de cada um no campo pessoal (indivíduo) e no campo impessoal (sociedade). A compreensão do papel do indivíduo no campo impessoal tende a fortalecer os sentimentos de igualdade, de respeito à maioria, o bem comum e fomentar a participação e a solidariedade, tão necessárias em momentos de crises.
Para que este exercício mental seja funcional e aplicável temos que nos perguntar sobre a família que temos e a que queremos ter? A escola que temos e a escola que queremos ter? O trabalho que temos e o trabalho que queremos ter? A igreja que temos e a igreja que queremos ter? A cidade que temos e a que queremos ter? E esta reflexão precisa ser sem preconceito, sem juízos de valor, desprovida de interesses pessoais e movida pelo bem comum. Após esta reflexão temos que ter claro o que dizemos e o que gostaríamos de dizer e se o que dizemos e o que gostaríamos de dizer visam o bem comum!
Verificando as possibilidades, as ações que podem ser feitas em busca de melhorias, em busca de consensos e construções coletivas, visando o diálogo, respeitando as diferenças culturais, religiosas, étnicas, ocorrerá o amadurecimento da sociedade, a diminuição dos conflitos e, por consequência, a vulnerabilidade da opinião pública.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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