Guia de etiqueta para situações corriqueiras

Não sou exatamente um primor de educação e este pequeno, mas visível desvio de conduta não é culpa de minha mãe Mirthô Peçanha Martins …

Não sou exatamente um primor de educação e este pequeno, mas visível desvio de conduta não é culpa de minha mãe Mirthô Peçanha Martins (não mais aqui neste plano para se defender), mas que juro fez o seu possível. Ainda assim tento manter o uso diário de expressões mágicas que se aprende na infância, nos primeiros anos na escola, mas, principalmente em todos os momentos na família, como, "por favor,", "com licença", "muito obrigada" e outras derivações que tem sons tão confortantes na fé de um mundo melhor e fornecem fermento para um dia agradável.
Nada mais animador para um início de quarta-feira promissor do que um bom dia do vizinho no elevador, por exemplo. Tenho alguns no meu prédio que vociferam algo semelhante a um cumprimento cujo som chega até a dar medo. É de ótimo tom também desejar um bom trabalho e agradecer ao motorista do transporte público quando se chega ao destino final e se desembarca do veículo. Ou quem sabe distribuir um sorriso, nada tão abertamente familiar ou escandaloso, ao caixa do supermercado que, pelo menos por momentos, sabe de tudo o que se consome minimamente na minha casa ao registrar o preço das mercadorias que rolam na esteira.
Mas confesso sentir falta, e não quero colocar isto na culpa das nossas mães, de um guia ou manual de etiquetas para situações corriqueiras e que me preocupam nos dias de chuva. A briga de guarda-chuvas e sombrinhas entre eles, a guerra deles com os pedestres providos ou desprovidos de tais equipamentos, o atropelo e a falta de jeito de quem entra com eles em lojas, bancos e ou restaurantes. E o desrespeito com quem não os levou para a rua, seja por quais motivos, e disputa um espaço embaixo de tetos, marquises ou assemelhados com aqueles que têm guarda-chuvas e sombrinhas.
Será que as pessoas ignoram que é aconselhável desviar de guarda-chuvas ou sombrinhas abertas que vem em sentido contrário ao nosso nas ruas? Será que as pessoas não desconfiam nem de longe que não devem sentar ou aboletar-se (porque têm uns que literalmente se atiram) nos bancos dos transportes públicos e deixar os guarda-chuvas e sombrinhas abertas pingando água no vizinho ao lado ou até mesmo encostando e ensopando a roupa do outro? Será que os donos de guarda-chuvas ou sombrinhas não imaginam que deveriam priorizar as marquises, os toldos e outros similares para o abrigo daqueles que não estão, no momento, sem os equipamentos protetores das chuvas?
Sem falar naquele colega (e todo mundo tem um), totalmente sem noção, que chega ao local do trabalho e resolve abrir o seu guarda-chuva ou sombrinha e sacudir com todo seu furor para diminuir o acúmulo de água no equipamento? Sabem? Tipo cachorro quando se sacode todo voltando de algum banho que não tenha sido em pet shop? E você, que estava tão sequinha, tão limpinha, e tão cheirosinha, tem vontade de se fechar no banheiro e chorar de raiva.
Poderia estender esta conversa para a necessidade de guia de boas maneiras para supermercados, para comportamentos no cinema, regras em filas de banco (não fique empurrando o próximo da fila que ele não tem capa de super-homem), risadas altas em enterros, celular em espetáculos culturais, sessão de autógrafos e tantas outras situações. Mas não sou nem de longe especialista em qualquer uma destas ocasiões. E neste momento, preciso ir ao banheiro e chorar de raiva.
Esta coluna foi publicada originalmente em 23 de julho 2014

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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