A melhor idade

"A velhice não é um lugar para amadores." (Bette Davis) Sobram anedotas e piadas sobre velhos e velhice. Desde as inocentes piadas de salão …

Coluna JA 25-08

"A velhice não é um lugar para amadores."

(Bette Davis)
Sobram anedotas e piadas sobre velhos e velhice. Desde as inocentes piadas de salão até aquelas de cocheira. No entanto, a velhice passou a ser coisa séria e nossos médicos geriatras a elegeram como A Idade de Ouro. Mas nem sempre foi assim - a poetisa Emily Dickinson já nos advertia:
"A velhice vai chegar de repente, como um assaltante

e não aos poucos, como gostamos de acreditar."
O grande Dante Alighieri era outro poeta que se acabrunhava com a perspectiva da velhice. Quando compôs o clássico "La Divina Commedia", ainda não havia alcançado os seus 40 anos. Mas em seus versos iniciais de "Inferno" ele já se considera velho:
"Nel mezzo del cammin di nostra vita?"

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Mas é preciso considerar que o poeta florentino tinha motivos de sobra para se considerar na metade de sua existência. Naquela Itália de 1200, assolada por assassinatos políticos, perseguições religiosas e doenças incuráveis, chegar inteiro aos 50 anos era um feito de sobrevivência.
Já em nosso século XXI, temos uma outra perspectiva - os drones guiados por satélites e os atentados terroristas assumiram o papel de ceifadores de vidas, substituindo os envenamentos políticos e as grandes pestes. Mas surge um lado animador: descobertas científicas estão prolongando a vida útil das pessoas. Existem no planeta mais de 800 milhões de habitantes com mais de 65 anos. E entre estes, 350 mil já chegaram aos 100 anos, o que animaria Dante e desmente a crença dos gregos antigos, que consideravam velhice como doença incurável. E os médicos lembram: a melhor idade acontece depois dos 60.

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Assim, apesar das dores e disfunções que nos atormentam à medida em que envelhecemos, os cientistas e seus laboratórios nos asseguram que, além de ficarmos mais espertos com a idade, ganhamos vantagens das quais não nos avisaram. Conferindo:
- Alguém sabe o que é memória imunológica? Os médicos acreditam que é o que ensina o organismo a apreender com os sucessivos ataques de centenas de virus e bactérias. E que acumula camadas de proteção ao longo dos anos. Quer dizer - não sofreremos de tantas gripes como quando tínhamos 20 ou 30 anos. E espirramos e tossimos menos do que os adolescentes que temos em casa.
- Boas notícias para os alérgicos. Com o passar do tempo, a produção de anticorpos tende a diminuir - inclusive a imunoglobulina, a vilã causadora da maior parte das alergias. (Que pena que o tio Alfredo não tenha sabido disso, pois aos 70, inchava e ficava vermelho, cada vez que uma fritada de camarões passava por perto!).
- E os neurônios? Sabe-se que o número de neurônios se multiplica nas 28 semanas após o nascimento e que metade morre no fim da adolescência. Desde 1956, a Universidade de Seattle pesquisa as funções dos neurônios em 6.000 voluntários. É o estudo mais longo que se conhece, testando as mesmas pessoas a cada sete anos. Resultados: os com 40 a 50 anos têm dificuldades em matemática e álgebra, mas estão cada vez melhores em vocabulário, orientação espacial, memória verbal e habilidades práticas.
- Menos suor. Confirmado: após os 50 anos, as glândulas sudoríparas encolhem e ficam menos numerosas. Significa economia em desodorante e água de colônia?
- Adeus enxaquecas e dores de cabeça! Uma pesquisa na Suécia, com maiores de 40 e 50 anos descobriu que enxaquecas ficam mais leves, menos dolorosas e menos frequentes à medida em que envelhecemos. Das 400 pessoas examinadas, só 1% reclamou de dores de cabeça crônicas.
- Mais e melhor sexo? Há controvérsias. E muitas piadas de mau gosto. No entanto, estudos mostram que pessoas maduras praticam mais - e melhor - sexo do que se comenta no boteco da esquina. Pesquisas sobre a atividade sexual das mulheres de 70 a 80 anos constataram que metade confirmou orgasmos "sempre" ou "na maioria das vezes", durante o sexo. Outros estudos mostram conclusões semelhantes - 74% de homens e 70% de mulheres com mais de 60 anos relataram maior satisfação sexual do que em seus 40 anos. A professora Tara Saglio, uma terapeuta do sexo em Londres, explica que as mulheres maduras têm menos insegurança. "As mulheres mais velhas estão mais confiantes em expressar sua sexualidade. E a confiança faz o sexo melhor".

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Ainda não estamos convencidos? Os idosos de hoje estão mais saudáveis do que 100 ou 200 anos atrás e ainda têm boas chances de celebrar mais alguns aniversários. Em 1950, as pessoas com 25 anos de idade tinham expectativa de vida de 65 para mulheres e de 75 para homens. Agora em 2015, as mulheres com 25 anos contam com uma expectativa de vida de 85 e os homens, de 80 anos. Um outro grande poeta, o inglês Robert Browning, parecia estar prevendo o futuro quando escreveu:
"Fique velho e não se amedronte, pois o melhor tempo de nossas vidas ainda está por vir".

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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