A sensação de insegurança do gaúcho

O tema da insegurança é uma preocupação crescente no Estado do RS e, em especial, entre os porto-alegrenses. As pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas …

O tema da insegurança é uma preocupação crescente no Estado do RS e, em especial, entre os porto-alegrenses. As pesquisas quantitativas e qualitativas realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião monitoram a ampliação do sentimento de insegurança do gaúcho, sendo que a segurança pública atinge um patamar de 80% da preocupação da sociedade. Os gaúchos continuam reclamando dos problemas tradicionais como saúde, infraestrutura e educação, mas a segurança passou a ocupar o ranking dos medos e receios. O medo e o receio da sociedade potencializam o tema, gerando problemas de ordem psicológica e de saúde pública. A sensação de insegurança é resultado da omissão do Estado.
A legitimidade do Estado se configura pelo aparato da força física. Em sua essência, o Estado é constituído pela composição dos três poderes; Executivo, Legislativo e Judiciário. A população quando reclama do tema da segurança, indiretamente, "responsabiliza cada um dos poderes constituídos", sob a seguinte ótica: o Executivo não executa, o Legislativo não faz leis adequadas e o Judiciário é moroso e conivente com um ordenamento jurídico distante da realidade.
Menos da metade dos gaúchos confia no aparato repressivo (45%). Do ponto de vista prático, pode ser compreender, pelas pesquisas qualitativas, a leitura que a população tem do sistema:
- Há um baixo número de policiais nas ruas, em especial, da Brigada Militar. Sendo este um tema vital para população.
- Se cristaliza a premissa de que há uma morosidade no atendimento. A população argumenta que não é atendida quando necessita ou que não há retorno das investigações, relatando um descaso com o cidadão. Tal percepção amplia a desconfiança com o aparato repressivo e muitas pessoas nem registram as ocorrências, "pois acreditam que não dá em nada", limitando a validade das estatísticas policiais.
-  A estrutura da polícia é parca, "que chega ao ponto de responder para o usuário que não tem veículo para atender uma ocorrência";
- Há falta de apoio institucional aos policiais, que estão "amordaçados" em uma burocracia legal, "os policiais chegam em uma comunidade e não podem fazer nada pois não tem flagrante, não provas e assim por diante";
- Há dúvida se a lei é feita para proteger vidas ou para "aprisionar os homens de bem" que estão a mercê dos bandidos armados. A população afirma que "enquanto os bandidos ficam soltos a população se fecha atrás das grades". A pessoas acreditam que quem "faz as leis não tem coragem de morar nas vilas ou não sabe como é a rotina de um policial". Para os entrevistados os deputados e juízes deveriam se colocar na "pele do cidadão", viver a rotina das ruas antes de fazer ou julgar as leis;
- O sistema de inteligência da polícia não atua no "desbaratamento" das quadrilhas que comercializam desde celulares até peças de carros roubados, "a cada esquina se vê os receptadores do crime comercializando seus produtos e ninguém faz nada";
- Existe a percepção de que há condescendência da justiça com a injustiça ou no mínimo uma morosidade que favorece os criminosos, e em especial, com os menores infratores. A maior parte da população acredita que "a polícia prende num dia e a justiça solta no outro";
O resultado desta percepção atinge a credibilidade e a legitimidade do Estado, constituído em seus três poderes. O temor da população neste momento está associado aos dilemas básicos que remontam as conquistas básicas Estado de Direito (direito a vida, a liberdade e a propriedade).
Enquanto muitos apregoam os avanços do Estado Democrático de Direito, a população busca estratégias de sobrevivência, temendo um retrocesso, que por sensibilidade social, oscila em um sentimento de Estado de Direito e de Feudalismo (ausência de um Estado). A população se sente cada vez mais desconfiada e abandonada, não sabe como fazer valer seus direitos e teme os "senhores feudais ligados ao tráfico" que tem o "direito de vida e de morte" sobre a população, enquanto os reis e nobres dos três poderes estão encastelados.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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