Vestida e travestida com o tal do espírito olímpico

Pois não é que o tal espírito olímpico invadiu a minha rotina dias antes da cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos 2016, que …

Pois não é que o tal espírito olímpico invadiu a minha rotina dias antes da cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos 2016, que ocorrem no dia 5, na sexta-feira, no Maracanã, no Rio de Janeiro. Desde o domingo, ando zapeando no controle remoto em busca de informações nos diferentes canais sobre as disputas de 42 modalidades olímpicas que acontecerão nos 19 dias de competição no Brasil e envolverão 306 provas. Aliás, antecipando-me à entrega de 136 medalhas femininas, 161 masculinas e nove mistas dos jogos olímpicos, já estou concorrendo ao ouro no manuseio do controle remoto para acompanhar todos os preparativos da competição.
Juro de pé junto, por todos os santos, e sem cruzar os dedos escondidos que este sentimento esportivo não tem absolutamente nada a ver com a beleza dos atletas da Seleção Francesa de Natação, que treinaram no Grêmio Náutico União, em Porto Alegre. É que todo o dia, pela manhã, recebia no Whatsapp de um determinado grupo de amigas, algumas fotos dos atletas à beira da piscina do União, enviadas por uma pessoa lá de dentro que não vou de jeito nenhum especificar para não prejudicá-la. Nossa, era cada belezura de fazer corar uma senhora nos seus 56 anos.
Também não é a possibilidade de ouvir um sonoro #ForaTemer no espetáculo de abertura que me fez vestir e travestir o espírito olímpico. Em um dos ensaios da tal cerimônia (porque é tudo cronometrado para nada sair do determinado) o presidente interino Michel Temer foi vaiado por um grupo de participantes. Explico: sou totalmente contrária às vaias e as considero um ato grave de falta de educação. Mas se o público entender de gritar um legítimo #ForaTemer para um vice que assumiu ilegitimamente o lugar da presidenta eleita Dilma Rousseff, o que eu, aqui do meu cantinho observando na sala do apartamento poderei fazer?
A possibilidade de ver atletas de todos os cantos do mundo desfilando pelo meu País é que fez o espírito olímpico se apossar das minhas emoções. A possibilidade de saber que atletas de vários países do universo irão conhecer alguns dos cenários mais lindos do meu País é que abriu a porta de entrada para o espírito olímpico. O desembarque de delegações no Aeroporto do Galeão trazendo competidores de diversas partes do planeta é que desenvolveu em mim o tal do espírito olímpico. A invasão de uma população estrangeira no meu Brasil tão colorido e tão desuniforme alimenta este súbito sentimento olímpico.
Resta torcer para que este clima de euforia esportiva não seja manchado pela violência crescente no Rio de Janeiro. Resta torcer para que não ocorram atos que virem notícia negativa nestes dias de atletas no nosso Brasil. Resta torcer para que as lágrimas que escorram sejam somente de felicidade pelas medalhas a serem conquistadas e que nada nos envergonhe nestes Jogos Olímpicos.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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