A ideologia não será rainha na decisão de voto em Porto Alegre  

Analisar a cultura política do eleitor é primordial para entender a tendência de um processo eleitoral. O comportamento do eleitor expressa suas crenças, percepções …

Analisar a cultura política do eleitor é primordial para entender a tendência de um processo eleitoral. O comportamento do eleitor expressa suas crenças, percepções e avaliações: fatores que motivam suas decisões. A ciência política clássica, com autores como ALMOND e VERBA, ensina que há três tipos de orientação política:
1) orientação cognitiva = quando o indivíduo tem conhecimento do sistema político e a crença nele, nos seus papéis e nos seus titulares, seus inputs e outputs;
2) orientação afetiva = que se traduz por um comportamento guiado pelos sentimentos sobre o sistema político, seus papéis, pessoas e desempenho;
3) orientação avaliativa = quando há combinação de padrões de valor, bem como de critérios de valor (julgamento) com informações e sentimentos (opinião).
A grande questão é: como estes tipos de orientação política estão presentes no sistema de crenças dos eleitores, livre de qualquer determinismo culturalista? Ao analisar o desempenho de partidos políticos na capital, a partir de séries eleitorais, tem-se a premissa de que sempre predominou uma polarização política entre partidos considerados de esquerda e partidos considerados de centro ou centro direita.
Diante deste contexto o IPO utilizou um dos indicadores utilizados pela ciência política para medir ideologia, realizando a seguinte pergunta aos porto-alegrenses:
Na política, as pessoas falam muito de esquerda e de direita. Eu gostaria de saber se, em termos de ideologia, o(a) sr(a). se enquadra mais à direita ou mais à esquerda (ou não tem ideologia)? Em uma escala de 1 a 10, sendo que mais próximo de 1 é mais à esquerda, e mais próximo de 10 é mais à direita, com qual nota o(a) sr(a). se classifica em termos de ideologia?
Esquerda (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) Direita
O resultado da questão acima indica o seguinte comportamento:
- 41,0% dos eleitores se classificaram sem ideologia, não manifestando crença em ideias, mas em pessoas. Neste grupo, está um grande contingente de eleitores descrentes com o processo eleitoral.
- 10,6% não souberam responder à questão, por desconhecerem o que é ideologia. Trata-se de eleitores que negam a política e tendem a anular ou votar em branco.
-  48,4% se classificaram com ideologia, distribuídos da seguinte forma:
a) 27,4% esquerda;
b) 14,0% centro esquerda;
c) 37,2% centro;
d) 7,5% centro direita;
e) 14,0% direita.
Este resultado indica que o pleito de Porto Alegre será decidido pelos 51,6% que votam na pessoa do candidato, a partir de percepções associada aos atributos dos candidatos e da avaliação de suas propostas.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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