Eis a mulher das decisões rápidas e inesperadas

Bem que o título da coluna acima poderia servir de atrativo para conquistar os namoradores (geralmente casados ou noivos), que procuram naqueles sites de …

Bem que o título da coluna acima poderia servir de atrativo para conquistar os namoradores (geralmente casados ou noivos), que procuram naqueles sites de relacionamentos mulheres com perfis assim. Digamos, interessantes, talvez até instigantes. Vamos antes de tudo esclarecer: a Marcinha querida amada aqui não participa de tais sites, já foi feliz nos seus relacionamentos, os conhecidos e os ocultos (muitos), não quer, literalmente, sarna para se coçar. Exceto o meu neto canino, o shih tzu Dalai enquanto comigo permanecer, visto que ele é da minha filha Gabriela e um dia ela poderá também como é o caminho natural da vida, buscar sua independência residencial.
Se não é um cabeçalho para capturar um destes incautos que frequentam os sites, qual seria o motivo da colunista ser tão direta, objetiva e despachada no seu título e provavelmente na coluna. É que havia determinado fazer uns dias sabáticos lá em Butiá (calma, não seria um ano e nem vocês se veriam livres de mim tão cedo? hehehe? sou quase a encarnação da malévola). Mas, alguns sinais do corpo que não podem ser desprezados quando se soma mais de 50 anos de experiência acumulada, me fizeram voltar antes do tempo do descanso e procurar meu médico.
Portanto, amiguinhos e amiguinhas leitoras, estou desde sexta-feira internada em um hospital aqui na Independência, para tratar de um problema detectado no pulmão. Nenhum sinal de felicidade (espero) pela ideia remota de se livrarem desta que vos escreve. Primeiro, porque sou guerreira, sou dura na queda, repetindo refrão da minha presidenta Dilma Rousseff, "sou mulher brasileira". Segundo, porque mesmo daqui do leito hospitalar (juram que esta frase sugere um oinnnn de peninha, ok?) arrumei um jeito de escrevê-los e não privá-los do meu convívio. Terceiro, o sangue de Jesus tem poder, Deus é Pai, Oxalá está comigo, Nossa Senhora da Boa Hora avisou que ainda não estou na lista, Kardec me protege e Namastê. Ah, desculpem, esqueci que antes dos motivos elencados tinha o #ForaTemer, porque ainda terei este prazer.
Explicarei antes de tudo o motivo de não citar o nome do hospital. Estou sendo hiper mega bem tratada pelo médico que me foi indicado aqui, porque até então não tinha nenhum problema de pulmão. Ele é de uma gentileza ímpar, tem sido incansável e dedicado. O gastro, que já me acompanha há uns quatro meses é um anjo que apareceu na minha vida. E a enfermaria de excelência. Pena não poder dizer o mesmo do serviço de nutrição. Tu explica: eu posso sim tomar leite, mas não costumo consumir em excesso. Resultado: cortaram de vez o leite da minha dieta já restrita. Já expliquei para cinco nutricionistas diferentes e toda vez a compreensão delas piora. Tem que vir um lanchinho, um desjejum lá pelas 20h, uma vez que a janta chega às 17h45min, mas elas se esquecem de mandar. Avisei as frutas que posso ingerir. Não são só duas. Mas elas decretaram que um dia é só maçã e no outro é só banana.
Juro, por tudo que é mais sagrado, que neste instante desisti oficialmente de pedir que o Hospital (ai, chega de tanto cuidado), sim o Hospital Moinhos de Vento tenha, em seu quadro funcional, uma nutricionista que entenda pouca coisa, sabem, só um resquício de tudo que já tentei explicar para as outras cinco. Para não falarem depois que eu estava desmiolada ou sob os efeitos da medicação, iniciei hoje uma coleção com os dizeres da nutrição que vem coladinho nas bandejas. Talvez seja só o vento a soprar perto do hospital a afetar de leve o entendimento delas. E desde já, deixo aqui todo o respeito que merecem as nutricionistas, profissão que admiro e entendo como fundamental, e reforço que deva ser um problema pontual do hospital.
E somente uma mulher das decisões rápidas e inesperadas para rumar num fim de semana para Butiá, programar uns dias sabáticos, interrompê-los antes do tempo e entrar num SPA forçado dentro de um hospital, onde com certeza, emagrecerei pela confusão nutricional. Continuando na propaganda que é a alma do negócio, que mulher, a não ser uma das decisões rápidas e inesperadas, interromperia a leitura do livro "O Quarto Poder", do Paulo Henrique Amorim, gentilmente cedido pela amiga Carla Seabra, para escrever estas linhas? Somente uma mulher das decisões rápidas e inesperadas para dizer que, como a estadia será longa, está imensamente triste por não anular meu voto nas eleições do próximo domingo.
Pois esta mulher tem coragem de dizer que sente saudades dos CDS e DVDs da Maria Rita e do Chico Lindo Buarque meu namorado, das aulas de Pilates, ainda que estivesse gazeando, das minhas caminhadas pelo Bom Fim nos finais de semana, das minhas reuniões no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul e da recepção sempre calorosa do Dalai quando chego em casa. Mas como já profetizou a tia Rita Lee: "mulher é um bicho esquisito, todo o mês sangra?"

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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