Eu

Nasci em Campinas, São Paulo, em 9 de Julho de 1931, que a partir de 1932 ?Revolução Constitucionalista, passou a se feriado estadual ? …

Nasci em Campinas, São Paulo, em 9 de Julho de 1931, que a partir de 1932 -Revolução Constitucionalista, passou a se feriado estadual - e com 5 anos de idade já morava na capital. Meu play ground era a Praça da República, Centro de São Paulo, defronte, à Escola Caetano de Campos, onde fiz o Primário, o Ginásio  e o Clássico. Lá e na Biblioteca Municipal fiz muitos amigos: Cyro del Nero, Luís Celso Piratininga Figueiredo, Fábio Sabag, Mauro Rubens de Barros, Eusiles Pastore, Modesto Carvalhosa, Antunes Filho, Manoel Carlos, Bento Prado Jr, Ruth e Carlos Henrique Escobar.
Conheci Flávio Rangel na escola, levei-o a assistir pela primeira vez a um espetáculo de teatro - A Falecida, de Nelson Rodrigues - e a muitos outros. A gente via, lia e discutia teatro. Flávio, que se tornou um dos principais diretores do teatro brasileiro e o cigarro abreviou sua vida, foi uma das maiores amizades da minha vida.
Em 1955 resolvi vir para o Rio e entrei na terceira ou quarta montagem do Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues: assistente de direção e ator em algumas "pontas". Nessa montagem, Oswaldo Loureiro estreou como ator, fiquei amigo de Mme.Morinau e trabalhei com Paulo Goulart, amizade paulistana.
Em Campo Grande, zona Oeste Rio do Rio), dirigi espetáculos para o Teatro Rural do Estudante e inaugurei o Teatro Artur Azevedo, com a direção de Almanjarra, do próprio. Rogério Fróes, "talento promissor", amigo até hoje, para quem escrevi um espetáculo criou nessa peça um divertido personagem. Esse espetáculo rendeu prêmio nacional ao Teatro Rural do Estudante.
Em 1957, a convite de Antonio Abujamra, amigo/irmão, fui para Porto Alegre dirigir um espetáculo para o Teatro Universitário, fiz amigos e, em 1960, com Paulo César Peréio, Paulo José e Milton Mattos inauguramos a nossa própria casa de espetáculos, o Teatro de Equipe, por onde também passaram, entre outros, Fernando Peixoto, Lilian Lemmertz, Luís Carlos Maciel e Ítala Nandi.
Afrontado com o equívoco da eleição de Jânio Quadros, escrevi e montei O Despacho, espetáculo sobre o qual Fernando Peixoto escreveria anos mais tarde: "Mario escreveu, em 1961, uma obra-prima da dramaturgia brasileira, que não ultrapassou as fronteiras do Estado. Uma obra profética: previa a crise política de 61 com minúcia e nomes."
A tentativa golpista de impedir a posse legal de Jango, após a renúncia de Jânio, encontrou reação, principalmente no Rio Grande, e o Teatro de Equipe transformou-se no comitê de artistas e intelectuais pró-legalidade. Lá no Equipe, Lara de Lemos e Paulo César Peréio compuseram o Hino da Legalidade.
A partir do acordo parlamentarista que abortou o golpe e empossou Jango, o Brasil todo transformou-se num palco político, e engajei-me no processo.
O golpe de 64 encontrou-me na chefia de reportagem da Última Hora gaúcha, onde, inclusive, eu era o principal colunista. Dia 2 de abril, quando Jango e Brizola resolveram ir para o Uruguai, fiz a maior molecagem de toda a minha vida: publiquei na minha coluna - "Sem Censura"- eu que nunca fui getulista, a carta-testamento e a foto de Vargas.
Enquanto o Exército se rebolava para apreender o jornal nas bancas, eu fugia. Graças à coragem e competência de alguns amigos - obrigado - estou vivo.
Antonio Abujamra me contou que possuía um exemplar que ele dizia ser histórico.
Inté.

Autor
Mario de Almeida é jornalista, publicitário e escritor.

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