A mulher como agente político

Por princípio, o agente político é aquele detentor de cargo eletivo, eleito por mandatos transitórios. Nas eleições municipais de 2016, 641 mulheres foram eleitas …

Por princípio, o agente político é aquele detentor de cargo eletivo, eleito por mandatos transitórios. Nas eleições municipais de 2016, 641 mulheres foram eleitas ao cargo de prefeita - representam 11,57% do total -, demonstrando uma queda em relação às eleições municipais de 2012, onde foram eleitas 659 prefeitas. As cotas de gênero, portanto, que delimitam um percentual obrigatório de 30% de participação feminina nos processos eleitorais, não tem surtido o efeito desejado como um instrumento de ação afirmativa, tendo em vista que, nas eleições municipais de 2016, os homens tiveram uma participação de 88,43% das vagas ao executivo municipal do país.
Não são apenas as cotas de gênero, no entanto, que traduzem o momento político das mulheres na sociedade. Em 2006, as conquistas legais da promulgação da Lei Maria da Penha e a posterior regulamentação dos direitos trabalhistas das empregadas domésticas colocaram o país na vanguarda mundial. Tratam-se de conquistas paulatinas, em que as mulheres precisam revisitar o conceito de agente político para além de sua premissa formal. É necessário, portanto, descontextualizar o conceito de agente político, no bojo das relações de cidadania, onde a mulher é a principal protagonista: a família e a educação.
As pesquisas de opinião realizadas pelo IPO - Instituto Pesquisas de Opinião demonstram que é justamente no público feminino que se encontra o maior ceticismo e desinteresse político. Tem-se, nessa grande parcela da população, a crença de que a política é a fonte de todos os males e que a participação é uma ação efetivada por pares que se aglutinam para tirar proveito próprio de alguma situação. Como, então, podem as mulheres reverter a situação de injustiça, se elas mesmas não acreditam mais nas formas tradicionais da ação política? É necessário que elas passem a debater o conceito da política, revisitando os conceitos de ação política, de espaço público e do papel das decisões políticas no seio da família, da educação dos filhos, e da lógica da sociedade.
Este debate sobre a política não deve ser artificialmente imposto, mas precisa, para ser eficaz, perpassar a família, a associação de bairro, a associação de pais e mestres, os sindicatos e, inclusive, os partidos políticos, com vistas à constituição de uma cultura política com bases democráticas, onde as mulheres sejam agentes políticos naturais e legítimas, para além de qualquer cota de gênero. A política deve ser um ato político onde a mulher se inscreve, se escreve e permanentemente reescreve, influenciando sua rede de relações e utilizando seu poder de argumentação para o redesenho do Estado que almeja. As mulheres devem ser agentes políticos com base cultural, democrática e factual, não apenas atingindo, mas também superando o condicionamento exclusivo do direito.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

Comentários