Hay dias que no sé lo que me passa

Como já diziam Toquinho e Vinicius de Moraes na música "Cotidiano nº 2", hay dias que no se lo que me passa, eu abro …

Como já diziam Toquinho e Vinicius de Moraes na música "Cotidiano nº 2", hay dias que no se lo que me passa, eu abro o meu Neruda e apago o sol, misturo poesia com cachaça e acabo discutindo futebol. Assim meus dias e noites redesenham-se desde a metade de outubro, quando a minha vida passou por um turbilhão de imprevistos que bagunçaram a minha rotina. Obriguei-me a um retiro estratégico em Butiá, na bucólica casa de meu irmão, cunhada e afilhado Lucas. Depois, um SPA forçado em um hospital em Porto Alegre para tratar de uma doença no pulmão e o retorno imediato para o aconchego do lar da família na Região Carbonífera para tratar da recuperação total da saúde.
Pois de volta a Porto Alegre, esta cidade que eu amo tanto (apesar de quem irá administrá-la, legitimamente eleito, nos próximos quatro anos), acumulo tanto em comum com a canção de Vininha e Toquinho. Exceto o violão, para o qual nunca tive a mínima inclinação (para falar a verdade, embora adore música, não tenho intimidade nenhuma com nenhum instrumento). Acordo de manhã, pão com manteiga, suco natural, frutas, frios e um café farto como recomendou a mana e cunhada Flavinha. Todos os remédios ingeridos na hora correta. Para não perder o hábito total, uma rápida leitura nos jornais, mas "há muito, muito sangue no jornal". E como precisei cancelar as aulas de Pilates para um pequeno enquadramento orçamentário, meus pés tomam os trajetos das ruas do Bom Fim.
No retorno da caminhada pelo bairro que me acolhe há anos, sigo o conselho do Toquinho e Vinicius e faço a loteca, "quem sabe o meu dia vai chegar". E subo a gargalhar sozinha no elevador, como uma doidivana, porque rica ri à toa, não custa nada imaginar. Aos sábados em casa não tomo um porre, impedida que estou de beber pelos remédios, mas sonho sim soluções fenomenais para tudo. Articulo opções para a falta de vagas da educação infantil, penso como resolveria problemas crônicos de governo, imagino como fazer para reunir um pouco mais a parte da família afastada. Juro até que falta tempo para pensar em tantas coisas a resolver. Ainda mais totalmente sóbria.
Mas, ao contrário do que diz a música, quando o sono não vem e a noite não morre (exatamente como neste momento em que escrevo e que o canto inferior direito do computador mostra 02h49min), o dia que se apresentará nem sempre contará histórias sempre iguais. Por isso, escrevo novos poemas, penso em reformas no apartamento, acaricio as patas gorduchas e macias do meu neto canino shih tzu Dalai, leio capítulos alternados do livro "O Quarto Poder - Uma Outra História", do Paulo Henrique Amorim, gentilmente cedido pela amigona Carla Seabra (falta bem pouquinho guria), programo passeios no período da tarde pela 62ª Feira do Livro, tento ir com frequência nas reuniões do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio Grande do Sul, do qual faço parte da diretoria.
Ufa. E percebo que preciso de tempo. Muito. Mas muito mais tempo. Talvez nem tanto dinheiro. Adapta-se às necessidades financeiras. Mas é complicado adequar-se às exigências do tempo. Então, assim como na composição "Cotidiano nº 2", às vezes quero crer, mas não consigo, é tudo uma total insensatez, aí pergunto a Deus: escute amigo, se foi para desfazer por que é que fez?"
E agora, com licença, terei que tomar um remédio rosinha para tentar dormir.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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