Hoje, todos os clubes de futebol do Brasil são um só

Na noite desta quarta-feira não terá mais o jogo da final da Copa do Brasil, na Arena, entre Grêmio e Atlético Mineiro. A decisão …

Na noite desta quarta-feira não terá mais o jogo da final da Copa do Brasil, na Arena, entre Grêmio e Atlético Mineiro. A decisão foi adiada para a próxima quarta-feira, 7 de dezembro. A 38ª rodada do Campeonato Brasileiro, que iria ocorrer no domingo, 4 de dezembro, foi remarcada. Os jogos que encerram a edição de 2016 do torneiro serão disputados somente no domingo seguinte, 11 de dezembro. A CBF declarou luto oficial de sete dias pelo acidente de avião na cidade de La Unión, próximo a Medellín, na Colômbia, que vitimou jogadores do Chapecoense, dirigentes do clube e profissionais da imprensa escalados para a cobertura da primeira partida da final da Copa Sul-Americana.
A tragédia que vitimou o time da cidade catarinense de Chapecó e jornalistas, na madrugada de terça-feira (29), calou as vaias das torcidas adversárias, congelou os dribles dos jogadores no campo contrário, congelou o apito do juiz e emudeceu os hinos que sempre ecoam das arquibancadas. Com um saldo alarmante de 71 mortos e seis feridos, o acidente da aeronave da companhia boliviana Lamia, deixou no local onde o avião caiu um cenário desagradável de escombros, cheiro de combustível, passaportes chamuscados, distintivos do time de Chapecó, poltronas destroçadas, crachás de jornalistas de diferentes veículos com as fotos difíceis de serem identificadas.
O acidente com o avião ceifou a aspiração de uma cidade de firmar-se, definitivamente, no cenário nacional, graças ao bom desempenho no futebol e interrompeu o sonho de milhares de pessoas que acompanharam a subida da Chapecoense da série C, para a B, e depois a A, até chegar à final da Copa Sul-Americana. Mais do que sensibilizar a paixão pelo futebol, o acidente com o clube do Oeste de Santa Catarina matou jogadores em ascensão, paralisou carreiras que poderiam ser internacionais, evitou gols sensacionais, impediu passes incríveis e dizimou famílias, tirando do convívio diário pais, filhos, maridos, irmãos e amigos.
Por isso, não tem nos próximos dias, hino de time nenhum sendo entoado nas arquibancadas dos estádios. Respeitem os jogadores que não poderão mais ouvir tais canções. Por isso, os sem noção (e sempre aparecem uns), evitem as brincadeiras sem graça e desrespeitosas com qualquer tipo de rivalidade esportiva nas redes sociais. Respeitem, por favor, a dor da cidade do Estado vizinho. Por isso, pensem melhor antes de sair destilando tanto ódio, tanta impaciência, tanto rancor. Por isso, adotem mais a prática do amor, do sorriso, da gentileza, da humildade, da gratidão. O amanhã pode, inexplicavelmente, não ser permitido a todos.
Dentre os inúmeros profissionais de imprensa mortos no acidente de avião, conhecemos, lá no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors), o gaúcho Laion Espíndula, que atualmente era repórter do Globo Esporte. Com uma determinação, ele integrou, durante um período o Núcleo de Estudantes do Sindjors. E cheio de responsabilidade, participava com assiduidade das atividades que o sindicato promovia para protestar contra o fim de obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão, assim que na época, Gilmar Mendes, proferiu a decisão desastrosa. Laion convidava seus colegas estudantes e caminhava com a diretoria do Sindjors e parte da categoria que aderiu aos chamados pelas ruas centrais da cidade, e no encontro da Rua dos Andradas com a General Câmara (tradicional da Ladeira), todos colocavam narizes de palhaços para gritar palavras de ordem contra Gilmar Mendes.
Laion, onde você estiver, por favor, continue defendendo a nossa categoria e honrando esta profissão. A você e aos demais colegas vitimados no acidente, tenham certeza de que tudo valeu a pena.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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