Não somos culpadas. Nem uma a menos. Todas Vivas

Estamos em plena e intensa Campanha dos 16 dias de Ativismo pela Não Violência Contra as Mulheres; E eu sempre penso, quando escrevo, com …

Estamos em plena e intensa Campanha dos 16 dias de Ativismo pela Não Violência Contra as Mulheres; E eu sempre penso, quando escrevo, com certa frequência, colunas criticando as diferentes formas de violência (as mais antigas e as mais modernas e cruéis) praticadas contra as mulheres, que um dia não precisarei mais falar sobre este assunto. Mas ano vai e ano vem e pouco muda. Apesar da Lei Maria da Penha (2006) e da Lei do Feminicídio (2015), para citar as conquistas mais recentes, as mulheres continuam sendo vítimas de agressão, continuam apanhando, continuam sendo xingadas nas ruas, continuam sendo assediadas, continuam sendo mortas.
A banalização da violência assusta. E os números chegam a arrepiar. Você sabia que 38,72% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; e para 33,86%, a agressão é semanal? Você sabia que 85,85% corresponderam a situações de violência doméstica e familiar contra as mulheres? São dados muito preocupantes. O Mapa da Violência 2015 da ONU Mulheres aponta que em 2013 ocorreram no Brasil 4.762 feminicídios; 50,3% praticados por familiares e 33,2% por parceiros ou ex-parceiros. Isto é, em mais de 80% dos casos, a violência foi cometida por homens com quem as mulheres tem ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas.
E como diz, com extrema propriedade e didática, o folder distribuído no evento de comemoração dos 20 anos do Coletivo Feminino Plural é preciso, é urgente dar um ponto final na violência contra mulheres e meninas. É preciso entender que quando uma mulher diz não, ela está dizendo não. É preciso compreender que toda discriminação é uma forma de violência e toda violência de gênero é uma discriminação. E que toda a violência contra mulheres e meninas deve ser denunciada. Este é um compromisso pessoal e coletivo de mulheres e homens.
Recomendo também o vídeo lançado pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (COMDIM/Porto Alegre), que é magnificamente presidido pela companheira Vera Daisy Barcellos, e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SINDJORS), "Não Somos Culpadas". Está disponível na página do sindicato ( http://www.jornalistas-rs.org.br/index.php/item/850-comdim-e-sindjors-lancam-campanha-nao-somos-culpadas.html), e traz depoimentos de diversas mulheres denunciando que não somos, nunca fomos e jamais seremos culpadas de nada. Basta de tornar culpada a vítima. Basta de encontrar motivos para todos os crimes de feminicídio. Basta de matar pelo fato de sermos mulheres.
A campanha dos 16 dias de Ativismo pela Não Violência Contra as Mulheres tem início previsto para o dia 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher, e final no dia 10 de novembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos e atinge mais de 160 países. No Brasil, a campanha começou antecipada, no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, para enfatizar a dupla discriminação sofrida pela mulher negra.
Em 1991, mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres, iniciaram a campanha com o objetivo de promover o debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres. Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou 25 de novembro como o Dia Internacional da Não Violência Contra a Mulher. A data foi escolhida para lembrar que, no mesmo dia, em 1960, três ativistas políticas, as irmãs Mirabal, conhecidas como "Las Mariposas", foram assassinadas a mando do ditador Rafael Trujillo, na República Dominicana.
Os homens entraram nessa luta. O 6 de dezembro marca esta decisão. A data originou-se em 1989, quando o canadense Marc Lepine assassinou 14 mulheres em uma sala de aula em Montreal por não suportar que elas cursassem Engenharia. Um grupo de homens respondeu decidindo combater esse tipo de violência. Criaram a Campanha do Laço Branco: Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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