A insensibilidade "nonsense" dos representantes do povo com a nova cultura silenciosa

O protesto deste último final de semana nasceu do desencantamento da população com os políticos e, em especial, a partir da instabilidade econômica e …

O protesto deste último final de semana nasceu do desencantamento da população com os políticos e, em especial, a partir da instabilidade econômica e política que atinge o País. Pode-se listar uma série de motivadores sistêmicos que começa desde o combate à corrupção até o repúdio às mudanças realizadas pelos parlamentares em relação ao projeto anticorrupção proposto pelo Ministério Público.
Analistas limitam a importância dos protestos com base no número de participantes, utilizando como parâmetro de referência as multidões que ocuparam ruas e avenidas nas manifestações de 2013. Esta leitura é tão perigosa quanto a insensibilidade de políticos que recomendam "alfafa aos manifestantes" de "passeatas nonsenses".
Há uma nova cultura silenciosa em curso, que se manifesta, reclama e protesta de diversas formas. Esta cultura está presente nas passeatas e nas ocupações escolares, e se mostra nas abstenções do processo eleitoral; também se expressa pela tendência de mudança, na eleição de candidatos sem tradição política. Esta cultura silenciosa, que nasce da desconfiança com os políticos (95% no RS), motiva uma desconfiança generalizada nas instituições representativas e assola o comportamento nas primeiras instituições sociais (como a família, escola?), diminuindo os indicadores de solidariedade e ampliando o nível de individualismo.
Esta nova cultura silenciosa nasce da descrença, que tem raiz no ceticismo de uma sociedade que sempre oscilou entre sentimentos de esperança (depositando o voto) e de frustração (não tendo as expectativas atendidas). A maioria dos ditos representantes do povo se mostram insensíveis ao clamor popular ou ainda não foram informados que há uma nova cultura silenciosa, alterando o comportamento e as crenças da sociedade brasileira. Desconsideram que o brasileiro "cordial" já teve sua paciência testada de todas as formas e que, para a população, o atual sistema só interessa a quem se locupleta dele.
Esta nova cultura silenciosa exige um novo comportamento dos políticos e de toda a sua rede de relações. Exige uma revisão das cartilhas partidárias e da reforma do sistema político. Mas, antes de tudo, exige a moralidade pública, o resgate da ética e a compreensão de que "não existe meio-certo". A população é categórica em seu desencantamento, expressado pelo desinteresse e pelo ceticismo. Há um dito popular que professa: "se os gatos saem, os ratos tomam conta". Infelizmente, esta nova cultura silenciosa está reposicionando este dito quando pensa em seus representantes, ao passo em que "os gatos foram presos e os ratos tomaram conta".

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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